terça-feira, 26 de agosto de 2014

Final italiana no Maracanã



                                                 Final italiana no Maracanã


 

                Hoje, dia 25 de agosto de 2014, a imensa torcida da Sociedade Esportiva Palmeiras está em festa com as comemorações de seu centenário. As conquistas foram muitas nestes 100 anos de existência e para homenagear toda a família palmeirense recordamos o título inesquecível da I Taça Rio, verdadeiro campeonato mundial.

Quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, na metade do séc. XIX, abolindo o trabalho escravo no Brasil, obrigou os fazendeiros plantadores de café a recorrerem à imigração para substituir o negro no cultivo de suas terras.

Os italianos começaram a chegar, dirigindo-se, em sua maioria, para São Paulo, maior produtor brasileiro de café. Os que não foram para o interior, formaram na capital uma grande colônia. Nas primeiras décadas do séc. XX era numeroso o contigente de descendentes de italianos, os ítalo-brasileiros. Alguns bairros ficaram conhecidos pela maciça presença desses imigrantes e seus familiares.

Em 26 de agosto de 1914, membros da colônia italiana fundaram um clube de futebol com o nome de Palestra Itália. Com o passar do tempo cresceu o número de seus torcedores, incluindo-se brasileiros que passaram a torcer pelo Palestra. O crescimento da sua torcida foi tão rápido que ela passou a ser a segunda de São Paulo, perdendo apenas para a do Corinthians. Fato que criou a grande rivalidade entre as duas torcidas.

Com o advento da 2a Guerra Mundial, em 1939, a Itália fascista, de Benito Mussolini, a Alemanha nazista, de Adolfo Hitler, e o Japão formaram a aliança, conhecido como os Países do Eixo (Roma, Berlim e Tóquio).

Quando o governo brasileiro declarou guerra à Alemanha e à Itália, o Palestra Itália passou a sofrer pressões. O clube nada tinha a ver com o fascismo. Porém, as correntes nacionalistas, no governo de Getúlio Vargas, não davam trégua ao clube, em razão das suas origens. Na tentativa de acalmar os ânimos, a agremiação mudou o nome para Palestra de São Paulo. As pressões continuaram, até que a diretoria resolveu mudar o nome para Sociedade Esportiva Palmeiras, em 14 de setembro de 1942, Era uma homenagem a antiga Associação Atlética Palmeiras.

O novo nome deu sorte, porque na mesma semana o Palmeiras venceu o São Paulo e sagrou-se campeão paulista de 1942. Após ser campeão em 44 e 47, o título de 1950 o credenciou para disputar a I Copa Rio ao lado do Vasco da Gama, campeão carioca do mesmo ano, como representantes do Brasil. A competição criada pela CBD um ano depois da perda da Copa do Mundo para os uruguaios, reuniu seis equipes estrangeiras: Áustria, de Viena, Nacional, de Montevidéu, Sporting, de Lisboa, Olimpique, de Nice, Estrela Vermelha, de Belgrado e a Juventus, de Turim. Todos campeões em seus países, menos a Juventus, vice-campeã italiana.

Os participantes se dividiram em dois grupos: Vasco, Áustria, Nacional e Sporting, no Rio; Palmeiras, Juventus, Olimpique e Estrela Vermelha, em São Paulo.

Vasco e Áustria se classificaram no Rio. A equipe carioca vencedora por 5 a 1 deixou os austríacos em 2o lugar. Em São Paulo, na última rodada, a Juventus, para surpresa de muitos, goleava o Palmeiras por 4 a 0, classificando-se em 1o lugar.

Líder da chave de São Paulo, a Juventus enfrentou o Áustria, na fase semifinal, empatando de 3 a 3, no Pacaembu, e vencendo-o por 3 a 1, no Maracanã.

Vencedor da chave Rio, o Vasco jogou contra o Palmeiras, perdendo a primeira partida por 2 a 1 e empatando a segunda de 0 a 0. Os jogos foram realizados no Maracanã. Com esses resultados Palmeiras e Juventus foram os finalistas da I Copa Rio.

Jair Rosa Pinto, o famoso “Jajá, de Barra Mansa”, líder da equipe palmeirense e eleito o melhor jogador da Copa Rio relembrou alguns fatos ocorridos nos dias que antecederam a grande final:

“Antes das partidas finais, eu estava preocupado com as atuações do Oberdan e do Waldemar Fiume. O Oberdan não vinha atuando bem e o Fiume estava com o tornozelo inchado e mal podia caminhar. Falei com o diretor de futebol e com o médico. Eles insistiram no aproveitamento do Waldemar Fiume, até que eu o levei na presença do médico e ele declarou que não dava para jogar. Com relação ao Oberdan, a situação era mais delicada. Porém, conseguimos que o Fábio entrasse no gol. Fábio e Túlio jogaram muito e fomos campeões”.

A importância do Rio de Janeiro como capital federal e a grandiosidade do Maracanã, há um ano inaugurado, foram determinantes para que os jogos finais tivessem como palco o maior estádio do mundo. A torcida carioca prestigiou os dois grandes finalistas. Caravanas palmeirenses vieram apoiar Jair e seus companheiros. O time da Juventus era muito bom, especialmente, o goleiro Viola e o atacante Boniperti.

O 1o jogo realizado no dia 18 de julho, 4a feira, terminou com a vitória do Palmeiras por 1 a 0 gol de Rodrigues.

No domingo, 21 de julho de 1951, o Maracanã recebeu um público superior a 100 mil expectadores e a renda atingiu a 2 milhões 783 mil 190 cruzeiros. Autorizada a saída pelo árbitro alemão Franz Grill, o público sentiu que assistiria a uma partida emocionante. Aos 18 minutos, o ponta-esquerda dinamarquês Praest abriu a contagem. O 1o tempo terminou com a vantagem da equipe italiana. Logo no início do 2o tempo, aos 3 minutos, Rodrigues empatou. Cinco minutos depois, Boniperti colocou a Juventus em vantagem. O Palmeiras jogava pelo empate, atacava insistentemente, mas não conseguia vencer o extraordinário Viola. Até que, aos 38 minutos, Liminha conseguiu marcar o gol do título.

O Palmeiras sagrou-se campeão com: Fábio, Salvador e Juvenal; Túlio, Luís Villa e Dema; Lima, Ponce de Leon (Canhotinho), Liminha, Jair e Rodrigues.

A vice-campeã Juventus jogou com: Viola, Bertucelli e Parola; Manente, Bizzoto e Mari; Muccinelli, Karl Hansen, Bonipertti, John Hansen e Praest.

Eu vi a final “italiana” da I Copa Rio, no Maracanã e vibrei, como muitos cariocas, com a conquista do Palmeiras.

 

 
No vestiário, antes da equipe entrar em campo, a presença do presidente Mário Frugille
 
Time do Palmeiras formado antes do início da partida: Fábio, Luiz Villa, Juvenal, Túlio, Salvador, Rodrigues, Ponce de Leon, Lima, Dema, Jair e Rodrigues.

   
                                              Lima tenta a cabeçada, mas Viola defende

 
Sequencia do gol de Liminha que deu o título de campeão da Taça Rio ao Palmeiras
 
 
O ponta esquerda Rodrigues autor do primeiro gol palmeirense
 
 
Liminha que ao empatar o jogo deu o título ao Palmeiras
 
 
Os torcedores carregam Liminha após a chegada da delegação a São Paulo
 
 
No desfile da vitória, o escudo do Palmeiras abre caminho entre a multidão
 
 
Em 2001, ano do cinquentenário do título da Taça Rio, os campeões reunidos vivem novas emoções
 

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