Final italiana no Maracanã
Hoje, dia 25 de agosto de 2014, a imensa torcida da
Sociedade Esportiva Palmeiras está em festa com as comemorações de seu
centenário. As conquistas foram muitas nestes 100 anos de existência e para
homenagear toda a família palmeirense recordamos o título inesquecível da I
Taça Rio, verdadeiro campeonato mundial.
Quando a
Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, na metade do séc. XIX, abolindo o trabalho
escravo no Brasil, obrigou os fazendeiros plantadores de café a recorrerem à
imigração para substituir o negro no cultivo de suas terras.
Os italianos começaram a
chegar, dirigindo-se, em sua maioria, para São Paulo, maior produtor brasileiro
de café. Os que não foram para o interior, formaram na capital uma grande
colônia. Nas primeiras décadas do séc. XX era numeroso o contigente de
descendentes de italianos, os ítalo-brasileiros. Alguns bairros ficaram
conhecidos pela maciça presença desses imigrantes e seus familiares.
Em 26 de agosto de 1914,
membros da colônia italiana fundaram um clube de futebol com o nome de Palestra
Itália. Com o passar do tempo cresceu o número de seus torcedores, incluindo-se
brasileiros que passaram a torcer pelo Palestra. O crescimento da sua torcida
foi tão rápido que ela passou a ser a segunda de São Paulo, perdendo apenas
para a do Corinthians. Fato que criou a grande rivalidade entre as duas
torcidas.
Com o advento da 2a
Guerra Mundial, em 1939, a Itália fascista, de Benito Mussolini, a Alemanha
nazista, de Adolfo Hitler, e o Japão formaram a aliança, conhecido como os
Países do Eixo (Roma, Berlim e Tóquio).
Quando o governo brasileiro
declarou guerra à Alemanha e à Itália, o Palestra Itália passou a sofrer
pressões. O clube nada tinha a ver com o fascismo. Porém, as correntes
nacionalistas, no governo de Getúlio Vargas, não davam trégua ao clube, em
razão das suas origens. Na tentativa de acalmar os ânimos, a agremiação mudou o
nome para Palestra de São Paulo. As pressões continuaram, até que a diretoria
resolveu mudar o nome para Sociedade Esportiva Palmeiras, em 14 de setembro de
1942, Era uma homenagem a antiga Associação Atlética Palmeiras.
O novo nome deu sorte,
porque na mesma semana o Palmeiras venceu o São Paulo e sagrou-se campeão
paulista de 1942. Após ser campeão em 44 e 47, o título de 1950 o credenciou
para disputar a I Copa Rio ao lado do Vasco da Gama, campeão carioca do mesmo
ano, como representantes do Brasil. A competição criada pela CBD um ano depois
da perda da Copa do Mundo para os uruguaios, reuniu seis equipes estrangeiras:
Áustria, de Viena, Nacional, de Montevidéu, Sporting, de Lisboa, Olimpique, de
Nice, Estrela Vermelha, de Belgrado e a Juventus, de Turim. Todos campeões em
seus países, menos a Juventus, vice-campeã italiana.
Os participantes se
dividiram em dois grupos: Vasco, Áustria, Nacional e Sporting, no Rio;
Palmeiras, Juventus, Olimpique e Estrela Vermelha, em São Paulo.
Vasco e Áustria se
classificaram no Rio. A equipe carioca vencedora por 5 a 1 deixou os austríacos
em 2o lugar. Em São Paulo, na última rodada, a Juventus, para
surpresa de muitos, goleava o Palmeiras por 4 a 0, classificando-se em 1o
lugar.
Líder da chave de São Paulo,
a Juventus enfrentou o Áustria, na fase semifinal, empatando de 3 a 3, no
Pacaembu, e vencendo-o por 3 a 1, no Maracanã.
Vencedor da chave Rio, o
Vasco jogou contra o Palmeiras, perdendo a primeira partida por 2 a 1 e
empatando a segunda de 0 a 0. Os jogos foram realizados no Maracanã. Com esses
resultados Palmeiras e Juventus foram os finalistas da I Copa Rio.
Jair Rosa Pinto, o famoso
“Jajá, de Barra Mansa”, líder da equipe palmeirense e eleito o melhor jogador
da Copa Rio relembrou alguns fatos ocorridos nos dias que antecederam a grande
final:
“Antes das partidas finais,
eu estava preocupado com as atuações do Oberdan e do Waldemar Fiume. O Oberdan
não vinha atuando bem e o Fiume estava com o tornozelo inchado e mal podia
caminhar. Falei com o diretor de futebol e com o médico. Eles insistiram no
aproveitamento do Waldemar Fiume, até que eu o levei na presença do médico e
ele declarou que não dava para jogar. Com relação ao Oberdan, a situação era
mais delicada. Porém, conseguimos que o Fábio entrasse no gol. Fábio e Túlio
jogaram muito e fomos campeões”.
A importância do Rio de
Janeiro como capital federal e a grandiosidade do Maracanã, há um ano
inaugurado, foram determinantes para que os jogos finais tivessem como palco o
maior estádio do mundo. A torcida carioca prestigiou os dois grandes
finalistas. Caravanas palmeirenses vieram apoiar Jair e seus companheiros. O
time da Juventus era muito bom, especialmente, o goleiro Viola e o atacante
Boniperti.
O 1o jogo
realizado no dia 18 de julho, 4a feira, terminou com a vitória do
Palmeiras por 1 a 0 gol de Rodrigues.
No domingo, 21 de julho de 1951,
o Maracanã recebeu um público superior a 100 mil expectadores e a renda atingiu
a 2 milhões 783 mil 190 cruzeiros. Autorizada a saída pelo árbitro alemão Franz
Grill, o público sentiu que assistiria a uma partida emocionante. Aos 18
minutos, o ponta-esquerda dinamarquês Praest abriu a contagem. O 1o
tempo terminou com a vantagem da equipe italiana. Logo no início do 2o
tempo, aos 3 minutos, Rodrigues empatou. Cinco minutos depois, Boniperti
colocou a Juventus em vantagem. O Palmeiras jogava pelo empate, atacava
insistentemente, mas não conseguia vencer o extraordinário Viola. Até que, aos
38 minutos, Liminha conseguiu marcar o gol do título.
O Palmeiras sagrou-se
campeão com: Fábio, Salvador e Juvenal; Túlio, Luís Villa e Dema; Lima, Ponce
de Leon (Canhotinho), Liminha, Jair e Rodrigues.
A vice-campeã Juventus jogou
com: Viola, Bertucelli e Parola; Manente, Bizzoto e Mari; Muccinelli, Karl
Hansen, Bonipertti, John Hansen e Praest.
Eu vi a final “italiana” da
I Copa Rio, no Maracanã e vibrei, como muitos cariocas, com a conquista do
Palmeiras.
No vestiário, antes da equipe entrar em campo, a presença do presidente Mário Frugille
Sequencia do gol de Liminha que deu o título de campeão da Taça Rio ao Palmeiras
O ponta esquerda Rodrigues autor do primeiro gol palmeirense
Liminha que ao empatar o jogo deu o título ao Palmeiras
Os torcedores carregam Liminha após a chegada da delegação a São Paulo
No desfile da vitória, o escudo do Palmeiras abre caminho entre a multidão
Em 2001, ano do cinquentenário do título da Taça Rio, os campeões reunidos vivem novas emoções