quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Vavá, o "Leão da Copa"


                                                         Vavá, o “Leão da Copa”

O pernambucano Edwaldo Isidro Neto completaria 80 anos no dia 12 de novembro de 2014. Vavá nasceu na cidade do Recife no dia 12 de novembro de 1934. Aos 15 anos começou a jogar no meio-campo do Sport, sendo bicampeão juvenil de Pernambuco. Quando completou 18 anos, em 1952, o Vasco o trouxe para o Rio de Janeiro.
As Olimpíadas de Helsinki
A seleção brasileira de amadores se preparava para participar das Olimpíadas de 1952, em Helsinki, na Finlândia. O nome de Vavá foi lembrado e ele viajou ao lado de companheiros que fizeram parte de uma geração de excelentes jogadores como Carlos Alberto, seu colega no Vasco, Zózimo, Paulinho, Humberto Tozzi, Evaristo, Jansen e outros. Na estréia frente à Holanda, Vavá fez o último gol na goleada de 5 a 1.
Depois vieram a vitória frente a Luxemburgo por 2 a 1 e a grande decepção marcada pela derrota diante da Alemanha Ocidental por 4 a 2, que eliminou o Brasil. 
A Hungria, país do leste europeu, se sagrou campeã olímpica ao vencer a Iugoslávia por 2 a 0, na olímpica. Seus jogadores, como em todos os países da chamada “cortina de ferro”, eram considerados amadores.
O gol do título e a mudança de posição
No Vasco, sob a direção técnica de Gentil Cardoso, Vavá estreou na equipe principal contra o Bangu, em 17 de janeiro de 53. No domingo anterior, 11 de janeiro, o time vascaíno deixou escapar a oportunidade de se sagrar campeão ao empatar de 2 a 2 com o Fluminense.
Na rodada seguinte diante do Bangu, Gentil escalou Vavá ao lado de Sabará, Ademir, Ipojucan e Chico e o novato não decepcionou. Ipojucan abriu a contagem aos 27 minutos de jogo e Zizinho igualou o marcador quando faltavam dois minutos para terminar o primeiro tempo. Logo no início da segunda etapa, aos 4 minutos, Vavá marcou o gol da vitória e do título de 1952.
Mesmo conquistando o título carioca de 1952, Gentil estava com seus dias contados em São Januário. Flávio Costa deixava o Flamengo e retornava ao Vasco. Com o novo treinador, Vavá passou a jogar de centro-avante, posição em que se consagrou no futebol brasileiro e mundial.
Surge o “Leão da Copa”
No dia 13 de novembro de 1955, Vavá estreava na seleção brasileira contra o Paraguai, no Maracanã, em disputa da Taça Osvaldo Cruz. O ataque formou com Sabará, Didi, Vavá, Pinga e Escurinho. O Brasil venceu por 3 a 0 gols de Zizinho (2), substituto de Vavá no 2º tempo, e Sabará.
No Vasco, o atacante conquistou mais dois títulos cariocas. Em 56, sob o comando de Martim Francisco, e dirigido por Gradim o supersuper em 1958.
Antes do título carioca de 58, em campos suecos, Vavá confirmou as qualidades de um grande centroavante, sagrando-se campeão do mundo, recebendo o apelido de “Leão da Copa”, devido à raça sempre demonstrada em suas atuações.
No mundial, Vavá participou dos seguintes jogos: Inglaterra (0 a 0); União Soviética (2 a 0 – marcou os dois gols); França (5 a 2 – 1 gol); e Suécia (5 a 2 – 2 gols).
O futebol espanhol não perdeu tempo e contratou o “Leão da Copa”. Vavá defendeu o Atlético de Madri durante três anos, retornando ao Brasil para jogar no Palmeiras.
Bicampeão mundial
Em 62, no Chile, mais uma vez o grande artilheiro comandou o ataque do Brasil, participando de todos os jogos: México (2 a 0); Tchecoslováquia (0 a 0); Espanha (2 a 1); Inglaterra (3 a 1 – 1 gol); Chile (4 a 2 – 2 gols); e Tchecoslováquia (3 a 1 – 1 gol). Com quatro gols, ao lado de Garrincha, foi o artilheiro do Brasil no bicampeonato:
“Na seleção, a gente tem que ter futebol, mas também coração e valentia. Sem isso não se ganha Copa.”
Campeão paulista e os últimos anos da carreira
Depois de ser campeão paulista pelo Palmeiras em 1963, Vavá foi para o América, do México, onde permaneceu até 1967. Jogou mais dois anos, defendendo o San Diego, dos Estados Unidos. Ao retornar ao Brasil, em 1969, com 36 anos encerrou a carreira na Associação Atlética Portuguesa, da Ilha do Governador. Vavá nos deixou no dia 12 de janeiro de 2002.

 Ataque da seleção brasileira nas olimpíadas de 1952: Humberto Tozzi, Larry e Vavá; Paulinho e Jansen.
                  Vavá marca o gol da vitória de 2 a 1 sobre o Bangu e do título carioca de 1952.
                                            Vavá com a faixa de campeão carioca de 1956.
        Antes do amistoso entre Botafogo x Atlético de Madri, em 1959, Garrincha, Vavá e Didi.
           Na Espanha Vavá num ataque excepcional com Miguel, Kopa, Di Stefano e Gento.
 Nos anos em que atuou no Palmeiras, Vavá esteve ao lado de grandes jogadores: Gildo, Vavá, Servílio, Ademir da Guia e Rinaldo.
 
Na década de 60, Santos e Palmeiras realizaram grandes partidas. Na capa da Gazeta Esportiva Pelé e Vavá por ocasião de mais um clássico entre santistas e palmeirenses.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Oldair, liderança, garra e polivalência


Oldair, liderança, garra e polivalência

Acompanhei a carreira de Oldair Barchi como torcedor, especialmente, quando vestiu a camisa do Fluminense, e no exercício da locução esportiva.

Transmiti muitos jogos de Oldair atuando como meia ponta de lança, volante e lateral esquerdo. Em todas as posições demonstrou sempre muita garra.

Nascido na cidade de São Paulo, Oldair veio ao mundo no dia 1 de julho de 1939 e aos 75 anos nos deixou no último dia 31 de outubro de 2014.

Fez parte do elenco do Palmeiras desde 1959, quando o clube após sensacional vitória por 2 a 1 sobre o Santos conquistou o título paulista. Lembro ter assistido a esse jogo pela televisão com a narração do excelente Raul Tabajara.

No período em que esteve no Palmeiras pouco jogou e por consequência quase não aparecia na mídia. Tanto que quando surgiu o convite de Zezé Moreira para se transferir para o Fluminense, Oldair aceitou de imediato.

No Fluminense, agora dirigido por Tim, Oldair se sagrou campeão estadual em 1964, na equipe em que atuavam o veterano Castilho e o estreante Carlos Alberto Torres.

No ano seguinte, apareceu novamente em sua vida Zezé Moreira, que o levou para o Vasco da Gama. Escalado na lateral esquerda na decisão da Taça Guanabara com o Botafogo, teve a missão de marcar Garrincha, que não era mais o mesmo de outras gloriosas jornadas.

Oldair foi o autor de um dos gols na vitória de 2 a 0 diante do alvinegro. O Vasco conquistou o primeiro título da Taça Guanabara que era disputada separadamente do campeonato estadual.

O bom futebol de Oldair o fez ser lembrado por Vicente Feola para os treinos preparativos da seleção brasileira com vistas a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, sendo posteriormente cortado.

Em 1968, o Vasco se interessou por Buglê, do Atlético Mineiro, envolvendo Oldair da negociação. No clube mineiro, viveu excelente período na sua careira.

Chegou ao título mineiro em 1970. A alegria durou pouco, porque se desentendeu com Yustrich, conhecido pelo apelido de “Homão” pelo físico avantajado e suas atitudes autoritárias.

Tudo mudou para melhor, quando Telê Santana assumiu a direção técnica do Galo. Oldair voltou a ser titular e como capitão da equipe conquistou o campeonato brasileiro de 1971.

No triangular final entre Atlético Mineiro, São Paulo e Botafogo, o time mineiro ganhou do paulista por 1 a 0, gol de Oldair de falta. Com o triunfo do São Paulo sobre o Botafogo, o Atlético Mineiro enfrentou a equipe carioca na final com a vantagem do empate.

Depois que saiu do Atlético Mineiro, Oldair jogou pelo CEUB, de Brasília, encerando a carreira no extinto ESAB, de Contagem, Minas Gerais.

Descanse em paz grande Oldair, que em defesa das camisas dos clubes por onde passou sempre demonstrou muita garra, qualidade que marcou sua trajetória no futebol, além de seu excelente nível técnico.

 Oldair, Edemilson, Márcio, Wilson, Nonô e Pinheiro; Calazães, Walter, Rodrigo, Quarentinha e Escurinho. Uma das formações do Fluminense na temporada de 1962.

 Carlos Alberto, Oldair, Dari, Procópio, Castilho e Altair; Santana (massagista), Edinho, Manoel, Evaldo, Joaquinzinho e Escurinho. Equipe do Fluminense antes da decisão do campeonato estadual de 1963. O tricolor empatou com o Flamengo por 0 a 0 e ficou com o vice campeonato.

 Sob o comando técnico de Tim, o Fluminense se sagrou campeão estadual de 1964. Venceu o Bangu por 1 a 0 e 3 a 1 na série melhor de três. Equipe tricolor antes do segundo jogo: Carlos Alberto, Altair, Oldair, Valdez, Castilho e Procópio; Santana (massagista), Jorginho, Denílson, Amoroso, Joaquinzinho e Gilson Nunes.

                                Em 1965, Mário e Oldair jogaram juntos no Vasco da Gama

 Vasco campeão da Taça Guanabara de 1965: Gainete, Joel, Brito, Maranhão, Fontana e Oldair; Luizinho, Mário, Célio, Lorico e Zezinho.

                           Oldair frente a frente com Garrincha na Taça Guanabara de 1965.

 Durante os preparativos da seleção brasileira para a Copa do Mundo de 1966, Oldair na seleção branca: Murilo, Manga, Brito, Fontana, Oldair e Roberto Dias; Garrincha, Alcindo, Silva, Fefeu e Rinaldo.

O capitão Oldair ergue o troféu de campeão brasileiro de 1971 conquistado pelo Atlético Mineiro.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Victor, muita garra com a camisa tricolor


                                                                   Victor


Em março de 2006, encontramos com Victor Azambuja Monteiro, o Vitor da linha média formada por ele, Edson e Bigode do chamado timinho do Fluminense, campeão carioca de 1951. A conversa, na sala do Flu-Memória, na presença do zeloso Luizinho, trouxe inúmeras e boas recordações:

“A minha história é meio complicada, porque eu tive uma infância muito difícil. Vim de uma família carente e naquela época a despesa ficava toda em cima de meu pai. Eu era um peladeiro. Queria estar sempre num campo de futebol. Eu ia jogar pelada em vez de ir ao colégio. Assim fui levando a minha vida até começar a trabalhar com meu tio, que era proprietário de uma farmácia, em São João de Meriti. 

No Madureira, a primeira experiência 

Tinha meus 15 para 16 anos e dali fui fazer uma experiência no Madureira e me aproveitaram na categoria de base. Disputei naquele ano de 1946 o campeonato carioca de juvenil. No time principal do Madureira tinham muitos cobras. Lá jogaram Jair, Lelé, Isaias, Espinelli. Todos eram nossos ídolos.  

As dificuldades em um clube pequeno são muito grandes. Íamos para os outros estádios na carroceria de caminhão. Enquanto os jogadores do Fluminense, Flamengo, Botafogo estavam bem alimentados. Nós saímos de casa cedo só com o café. Quando ganhávamos tudo bem, mas na maior parte das vezes nos davam o dinheiro da passagem para pegar o trem.

De Teixeira de Castro para as Laranjeiras 

Jogava no São João FC, de São João de Meriti. Um dia, o Bonsucesso foi lá jogar uma partida amistosa e eu joguei além daquilo que eu pensava que podia ser. Quando terminou o jogo eu e mais dois colegas recebemos o convite para irmos treinar no Bonsucesso. Meus colegas não foram e eu fui sozinho. Treinei bem e no terceiro treino me chamaram para assinar contrato. Entrei no lugar do Mirim, que estava indo para o Fluminense, ganhando 600 cruzeiros. O Bonsucesso estava contratando o Alvarez, goleiro uruguaio. Lá encontrei o Miguel, que era zagueiro, Cambuí, Tampinha, Urubatão, Gilberto.

Fizemos uma boa temporada e no ano seguinte renovei contrato recebendo agora 4000 cruzeiros. Tive a infelicidade de estourar meus meniscos da perna direita num jogo contra o Fluminense, em Teixeira de Castro. Fui operado e só voltei oito meses depois. Num clube pequeno cheio de dificuldades não me trataram como eu deveria ser cuidado.

Quando retornei ao time fiz um excelente campeonato em 1950. No jogo com o Fluminense, no Maracanã, jogando fora da minha posição consegui fazer três gols no Castilho. Ganhamos de 5 a 3 para infelicidade do Fluminense e para minha felicidade, porque jogava no Bonsucesso. Mas, meu clube sempre foi o Fluminense. 

Não sentia mais a perna e após o campeonato houve mudança no Fluminense com a contratação de Zezé Moreira. Com o Zezé, a pedido dele, veio o Gradim. A pedido do Gradim o Fluminense me contratou

Cheguei ao Fluminense para fazer experiência de um mês, porque o presidente do Bonsucesso não queria me vender. Comecei a treinar o tempo passando e nada resolvido. Até que o Bonsucesso foi treinar com o Fluminense, nas Laranjeiras.  

Para surpresa minha, o presidente do Bonsucesso não me deixou treinar no Fluminense e sim no Bonsucesso. Começou o treino e o Fluminense ganhava de 2 a 0. Eu estava do lado de fora com a camisa do Bonsucesso. Entrei no segundo tempo e para minha felicidade viramos e ganhamos de 3 a 2.

O prazo estava se expirando e o meu sonho não se realizava. Eu tinha o aval do Zezé, mas por outro lado o presidente do Bonsucesso e o Fluminense não chegavam a um acordo financeiro. Foi mais uma semana de agonia. Até que apareceu o Romeu Dias Pino, presidente do Conselho Deliberativo, e resolveu a questão. Por 100 mil cruzeiros fui liberado para minha alegria.

Titular no sistema de Zezé Moreira

Não fui titular logo no início. O titular era o Pé de Valsa e o Nelson Adams o reserva. Para alegria minha e infelicidade do Nelson Adams, ele rompeu o tendão de Aquiles e não conseguiu voltar mais. Eu me adaptei mais ao sistema do Zezé Moreira, a marcação por zona, do que o Pé de Valsa, que era muito mais técnico. Eu era mais de briga.

Veio o campeonato, eu joguei nos aspirantes e o Pé de Valsa no time titular. Na terceira ou quarta rodada, os aspirantes venceram do Vasco, se não me engano, por 3 a 0, e os titulares perderam por 4 a 2 e o Pé de Valsa foi queimado.

Na semana do jogo contra o Bangu, Zezé me colocou para treinar meio tempo nos aspirantes e meio nos titulares. Na concentração os aspirantes acordavam às 7 horas e os titulares às 8. No domingo do jogo, não me acordaram. Às 10 horas fizemos a revisão médica e o Pé de Valsa foi queimado, dizendo que a pressão dele estava alta. Para minha felicidade a porta se abriu naquele dia. Ganhamos do Bangu, que era o bicho papão, por 5 a 3, e daí por diante joguei o campeonato todo”.

O “timinho” não era timinho

A imprensa em geral e os torcedores dos outros clubes chamavam a equipe do Fluminense de timinho. Victor nos conta como ele e seus companheiros reagiam e a partir de qual momento sentiram que poderiam ser campeões:

“Só quero saber o seguinte: time igual ao do Fluminense, da categoria do Fluminense, com quatro jogadores de seleção, é timinho? Então, os outros times o que eram? Perna de pau. Tínhamos Castilho, Píndaro, Pinheiro, Didi, Orlando. Eles pensavam que era timinho, mas não era.

Nós sentíamos que tínhamos condições de chegar ao título, porque nós éramos muito aplicados. Nós sabíamos o que o Zezé queria. Nós cumpríamos aquilo à risca, nunca fugimos. Todo mundo dizia é marcação por zona, ele vai matar os jogadores. E ninguém morreu. Eu, por exemplo, não morri. Eu e o Edson tínhamos um preparo físico muito bom e marcávamos muito.

O Fluminense tinha time para ganhar do Bangu

A derrota na última rodada, que provocou a melhor de três, para nós foi uma surpresa, apesar do Bangu ter um grande time. O nosso era mais aplicado e mais bem treinado. Nós quando saímos para a decisão contra o Bangu, saímos compenetrados que tínhamos time para ganhar do Bangu.

A posição do Telê no juvenil era centro-avante. Quando o Telê foi para o profissional, o Zezé o colocou na ponta-direita, porque queria alguém que fechasse pelo lado direito e não ficasse fixo lá na frente.

Telê se adaptou de tal maneira que se tornou uma figura no time que mais cumpria a determinação do Zezé. Carlyle foi expulso no primeiro jogo e o Telê foi escalado como centroavante, entrando o Lino na ponta-direita e o Robson na esquerda.

Na primeira partida, num escanteio o Carlyle se aproximou do Osvaldo “Topete” e foi empurrado por ele. Quando o Osvaldo deu às costas, o Carlyle desmanchou o cabelo dele. O Mário Vianna expulsou só o Carlyle. Eu tinha a certeza de que aquele ano era do Fluminense.

No primeiro jogo, o Mendonça ameaçou todo mundo. Quando ele ameaçou o Joel, o Didi foi se meter e também foi ameaçado, dizendo que ia dar mesmo. O Didi respondeu se ele fosse dar, ia levar também. Na primeira bola dividida, o Didi já estava prevenido e, malandramente, esticou a perna a mais. Aconteceu o que não podia acontecer, fraturar a perna do Mendonça”.

A participação no time de aspirantes e o vice do Rio-São Paulo

No ano seguinte, o Fluminense, na qualidade de campeão carioca, disputou a II Copa Rio, por ocasião de seu cinquentenário. Victor explica porque não participou dessa inesquecível conquista:

“Nessa época, um amigo do Zezé ofereceu o Jair Santana, do Olaria, ao Fluminense. O Jair foi contratado e o Zezé também começou a mexer no time. Eu fui um dos sacados. Estava no grupo e treinava a semana toda e só não ia para concentração. Não sei por que não era escalado”.

Sem jogar na equipe principal, Victor integrou os aspirantes e conquistou títulos. Em 1954, o Fluminense foi vice-campeão do Torneio Rio-São Paulo, perdendo o título na última rodada:

“Olha, no time de aspirante tinha grandes jogadores. Primeiro, o goleiro era o Veludo. Getúlio na lateral-direita. Getúlio jogou no Santos. Jogavam também o Nestor, Lafaiete, Emilson Pessanha, Batatais. Tanto que as minhas participações nos aspirantes foram mais como meia. Quando você não jogava em cima, jogava nos aspirantes. Pinguela, que era titular do Bangu, foi contratado e jogava nos aspirantes. Waldo, João Carlos, Robson jogaram nos aspirantes. Veja quantos craques saíram daquele time de aspirantes.

O Rio-São Paulo era um torneio muito difícil. Nós jogamos para ganhar. Perdemos na última rodada por 1 a 0 para o Vasco e demos o título ao Corinthians. Castilho, Veludo, Pinheiro e Didi estavam na Copa de 54, na Suíça. Adalberto, Duque e outros bons jogadores foram seus substitutos”.

Pirilo a causa da saída do Fluminense

Victor aponta o momento mais importante da sua carreira e conta a razão de sua saída do Fluminense para o Canto do Rio:

“Foi o título carioca de 1951. Tinha vindo do Bonsucesso que sempre deu bons jogadores para o Fluminense: Renganeschi, Rui, Pé de Valsa, Mirim, Careca. Quando entrei no time só perdi dois jogos.

Em 55, o treinador era o Russo e eu vinha jogando. No final do ano, o Fluminense contratou o Pirilo. Ele começou a fazer uma série de modificações. Trouxe alguns jogadores do Bonsucesso, como Paulo, Jair Francisco. Durante os treinamentos, foi tirando um, tirando outro até que me sacou. O direito de me sacar ele tinha, porém eu vinha jogando bem. No meu lugar entrou o Batatais, dos aspirantes.

Continuei a trabalhar, mas senti que o negócio não estava clareando. Em determinada semana, tive um problema de família para resolver e pedi para não me concentrar. Ele me liberou. Quando cheguei terça-feira, ele estava diferente. Fui ficando de lado, de lado e um dia fui excursionar com o time de aspirantes pelo interior.

Estávamos com o Gradim, em Colatina, e o time principal em Vitória. Pirilo vai à Colatina nos visitar e me chama para dar conselhos. Achava que era hora de eu sair do Fluminense coisa e tal. Eu disse para ele que se conselho fosse bom ele não me dava, ia me vender. Eu não ia comprar, porque não quero conselho. Ficou naquilo e quando voltei da excursão, senti que não tinha mais ambiente com ele. Aí, o José de Almeida me chamou para uma reunião com o Pirilo. Ficamos os três e ele voltou a me dar conselhos. Eu me virei e disse: vou embora porque não tenho mais clima aqui. Tenho mais seis meses de contrato com o Fluminense e posso ficar, mas eu não quero. Disse para o Pirilo: você vai se livrar de mim”.

A ida para o Canto do Rio

O Canto do Rio já tinha se interessado por mim. Falei com o Adolfo de Oliveira, que era deputado na época, aceitei a proposta e fui para o Canto do Rio. Estava com 29 para 30 anos. Veludo, Duque, Lafaiete, Eli, Adésio, Garcia, Floriano, depois o Orlando “Pingo de Ouro” também foram contratados. Dava para fazer um bom time. Embarquei naquela barca e fui parar em Niterói. Fiquei livre do Pirilo e ele de mim.

A dificuldade era o transporte. Ia e voltava todos os dias. Os três primeiros meses foram muito bons. Aquilo foi um projeto que não deu certo.

Quando chegamos encontramos como técnico o Nilton Anet. Depois o Lafaiete assumiu a direção do time e foi um desastre. Deixou de lado aquele grupo que foi com ele e passou a escalar os garotos. O Canto do Rio começou a se afundar.  

Não adiantava falar com o Lafaiete. Conversamos com o Adolfo que o Lafaiete não ia dar certo. Mas nenhuma providência foi tomada. Quando o Adolfo sentiu que a coisa estava feia, chamou a mim, o Veludo e perguntou sobre o Zezé Moreira. Pegamos o endereço do Zezé com o José de Almeida, no Fluminense, e o levamos para Niterói. Na excursão que fizemos à Europa, foi conosco o Pinheiro.

Clube pequeno é muito problemático e começou a faltar dinheiro. Quantas vezes saí de Niterói uma hora da manhã, esperando o tesoureiro chegar para saber se tinha dinheiro para nos pagar, e não tinha. Chegava a casa às 3 horas da manhã para estar no dia seguinte às 9 horas, em Niterói. Aquilo atingiu um ponto que não dava mais”.

Campeão na Venezuela 

Depois do Canto do Rio, a convite do empresário José da Gama, Victor vai para o exterior:

“Em 1959, o José da Gama, que era empresário e foi presidente do Madureira, convidou um grupo de jogadores para jogar na Venezuela. Eli, Edésio, que era cria do Canto do Rio, e mais três foram comigo. Defendemos o Desportivo Espanhol e fomos campeões.

A viagem era muito longa. Eram dez horas naqueles aviões quadrimotores. Retornei e resolvi parar. Jogar em time pequeno não dava mais. Fui procurar emprego. Como o Prefeito de São João de Meriti era meu amigo, me contratou. Hoje, estou aposentado, ganho bem e dá para viver”.

Os melhores técnicos e os maiores craques

Victor viu muitos craques atuarem. Destaca aqueles que mais o impressionaram e falou dos adversários mais difíceis:

“Moleque, ainda, era fã do Batatais, do Romeu. Quando me tornei profissional não me espelhei em ninguém. Cumpria sim às determinações do treinador.

Na minha posição sempre gostei do Zito, do Santos. Tostão foi muito bom. Rubens, o Dr.Rúbis, do Flamengo, era chatíssimo de se enfrentar e foi um craque. Excelentes jogadores foram também Ipojucan, Tovar. Agora os dois maiores jogadores de meio-campo foram Didi e Zizinho.

O Fluminense teve a felicidade de anos e mais anos ter dois tremendos goleiros, Carlos José Castilho e Veludo. Muitos falam que o Veludo era melhor do que o Castilho. Não era. O Castilho era mais sério no trabalho dele e o Veludo era displicente. Por isso, primeiro Castilho, segundo Veludo.

Trabalhei com bons técnicos. Gradim era bom treinador e muito humilde. Zezé Moreira era fora de série. Tanto que era fora de série, que teve um aluno que demonstrou o que ele era. Telê é aluno de Zezé Moreira. Pinheirão foi treinador também. Ambos trabalhavam na filosofia do Zezé Moreira”.

As mágoas não esquecidas

Victor ao se despedir, deixou claro que algumas mágoas não foram apagadas das suas lembranças:

“Reclamo do futebol, a existência de umas peças que são treinadores e pensam que são os donos do mundo. A chegada do Pirilo ao Fluminense transformou a minha vida. Me arrependo de não ter dito ao Pirilo que não iria embora, a não ser se o Fluminense rescindisse meu contrato e me desse o que eu tinha direito.

Há bem pouco tempo eu estava trabalhando, em Xerém, e não sei quais as razões do tufão que passou e tirou Pinheiro, Altair, Denilson e eu.

Sou grato ao Fluminense. O clube sempre cumpriu comigo todas as obrigações e eu sempre cumpri com os meus deveres. Lamentavelmente, fui penalizado sem ter praticado nenhuma irregularidade”.  

 
 Equipe do Bonsucesso que disputou o Torneio Início de 1949, no campo do Fluminense: Victor, Cambuí, Borracha, Tião, Rubens e Gato; Abdias (massagista), Demil, Rabada, Roberto, Cola e Soca.
 Time de aspirantes do Fluminense campeão carioca de 1951: Veludo, Nestor, Emilson, Larry, Joel, Duarte, Bimba, Victor, Lino, João Carlos e Robson.  
 Victor em ação na vitória do Fluminense por 4 a 2 sobre o Canto do Rio, no campeonato carioca de 1951.
 Nas partidas finais do campeonato carioca de 1951contra o Bangu, Victor teve pela frente o grande Zizinho.
Uma das formações do Fluminense no campeonato carioca de 1952:  Píndaro, Edson, Victor, Castilho, Pinheiro e Bigode; Telê, Didi, Marinho, Robson e Quincas.
 Equipe do Fluminense na temporada de 1955: Getúlio, Edson, Pinheiro, Veludo, Lafaiete e Victor; Telê, Robson, Waldo, Didi e Escurinho.  
                                     Nas Laranjeiras, Victor em um momento de fé.
 Time do Fluminense na temporada de 1955: Clóvis, Lafaiete, Victor, Duque, Veludo e Bassu; Wilson Bauru, Didi, Átis, Waldo e Quincas. 

Quando saiu do Fluminense, em 1956, Victor passou a defender o Canto do Rio: Lafaiete, Veludo, Eli, Victor, Duque e Hélcio; Jairo, Julinho, Zequinha, Orlando Pingo de Ouro e Ari.
 

 

                   

       

Outubro, o mês dos gênios do futebol


                            Outubro, o mês dos gênios do futebol

                Em outubro nasceram os dois maiores gênios do futebol brasileiro e porque não dizer da história do futebol mundial. Um nasceu no dia 18 de outubro de 1923 e o outro veio ao mundo no dia 23 de outubro de 1940. Receberam os nomes de Manoel dos Santos e Edson Arantes do Nascimento.
                Manoel nasceu em Pau Grande, distrito de Xerém, no Estado do Rio de Janeiro, e Edson, em Três Corações, no sul de Minas Gerais. Ambos ficaram conhecidos no mundo do futebol pelos seus apelidos: Garrincha e Pelé.
Os primeiros chutes do garoto Manoel foram dados nas peladas da Rua dos Caçadores. Fascinado por uma bola, ele sempre arranjava uma desculpa para faltar à Escola Domingos Bebiano, da Fábrica Pau Grande da Cia. América Fabril.
Quando menino outra diversão predileta era caçar passarinhos. Como era pequenino e gostava de pegar garrinchas, pequeno pássaro mais conhecido pelo nome de cambaxirra, sua irmã Rosa lhe deu o apelido de Garrincha, com o qual ficou conhecido mundialmente.
Os repórteres que estavam presentes ao primeiro treino de Garrincha, no Botafogo, elogiaram o desempenho daquele jovem de 19 anos. O Diário da Noite publicou: “Surgiu uma nova estrela no Botafogo. Sensacional o treino de Gualicho”. No início a imprensa o chamou de Gualicho, nome de um cavalo veloz e campeão das corridas no Hipódromo da Gávea. Depois, Garrincha passou a ser um nome obrigatório, escrito e falado, em todos os veículos de comunicação.
Dezessete anos depois, em Três Corações, um garoto se encantou com as atuações do goleiro Bilé, que defendia a meta do São Lourenço, time em que jogava Dondinho, seu pai. Nas peladas o menino Edson se comparava ao seu ídolo. Seus colegas confundiam Bilé com Pelé e com o passar do tempo definitivamente Bilé se transformou em Pelé.
Em 1956, Elba de Pádua Lima, o Tim, então técnico do Bangu, tentou levá-lo para o time alvirubro. Dona Celeste não deixou o filho ir para o Rio. No mesmo ano,  Waldemar de Brito, ex craque do Flamengo, Fluminense, San Lorenzo de Almagro conseguiu convencer a mãe de Pelé e levou o garoto de 15 anos para o Santos.
Garrincha e Pelé protagonizaram grandes espetáculos, nas décadas de 50 e 60, nos campeonatos regionais, na seleção brasileira e no exterior. Os confrontos entre Botafogo e Santos eram momentos especiais. Torcedores de outros clubes iam aos jogos dos alvinegros carioca e paulista para verem os dois fantásticos jogadores.
Na seleção brasileira, juntos, conquistaram o primeiro título mundial, na Suécia, em 1958. Em 1962, Pelé se contundiu no jogo contra a Tchecoslováquia, segunda partida da Copa. Garrincha jogou pelos dois e o Brasil chegou ao bicampeonato.
Em 1966, a seleção brasileira contou com as presenças de Garrincha e Pelé pela última vez. Na estreia diante da Bulgária, ganhamos por 2 a 0 com gols de Pelé e Garrincha. O Brasil nunca perdeu com os dois em campo.
De Garrincha, no dia 18 de outubro, fica a lembrança do único e verdadeiro fenômeno do futebol. O Chaplin dos gramados. Os seus dribles encantaram as plateias em todo o mundo. Ele será eternamente a “Alegria do povo”.
Quanto a Pelé, no dia 23 de outubro, temos a felicidade de abraçá-lo. Com justiça foi eleito o “Atleta do século”. Na sua última Copa, em 1970, nos gramados mexicanos nos brindou com lances inesquecíveis. A tentativa de marcar do meio de campo contra a Tchecoslováquia, o drible de corpo em Mazurkiwicz, no jogo Brasil e Uruguai, o gol de cabeça na final com a Itália, os passes para Jairzinho e Carlos Alberto, respectivamente, nas partidas diante da Inglaterra e a Itália.
Garrincha e Pelé são incomparáveis. Eles são criaturas únicas criadas pelo Criador!


                                        Garrincha e Arati que apresentou Mané ao Botafogo
                            Pelé, com 15 anos, chegou ao Santos levado por Waldemar de Brito
            Na seleção brasileira, Garrincha e Pelé juntos nunca foram derrotados