quinta-feira, 22 de junho de 2017




                                               Brasil, Copas e Craques

Daqui a um ano o mundo assistirá a abertura do 21º Campeonato Mundial de Futebol, o qual será realizado na Rússia. Já estão classificados a Rússia, país sede e o Brasil, único a participar de todas as edições da Copa do Mundo.

Iniciamos a série “Brasil, Copas e Craques” que mostrará a participção da seleção brasileira nos mundiais e os craques que se destacaram em cada edição.                  

      Na primeira Copa, uma vitória e uma derrota – I -
O futebol brasileiro é o único que participou de todos os campeonatos mundiais. Nas duas primeiras Copas realizadas no Uruguai, em 1930, e na Itália, em 1934, as divergências entre os dirigentes cariocas e paulistas impediram que a seleção brasileira se apresentasse com a sua força máxima.
A Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA) reivindicou a inclusão de um dos seus membros para integrar a Comissão de Esportes da Confederação Brasileira de Desportos. O forte argumento dos paulistas era o título do oitavo campeonato brasileiro de seleções em 1929.
Frustrados com a negativa da entidade nacional ao seu pleito, os dirigentes da APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos) resolveram não ceder seus jogadores para a seleção brasileira. Condicionava a revogação da medida se a CBD recuasse da sua decisão. Tal fato não aconteceu e a Comissão de Esportes, encarregada de formar o nosso selecionado, teve que contar apenas com os jogadores do Rio de Janeiro.
A imprensa paulista, como o Correio Paulistano, se referia ao selecionado brasileiro como a “representação carioca no mundial de futebol”.
Ao contrário, os jornais cariocas apoiavam a nossa seleção. O Correio da Manhã noticiava: “a despeito de tudo e ainda do desinteresse oficial, o futebol brasileiro será representado no primeiro campeonato mundial”.
Dessa forma não pudemos contar com craques como Friedenreich, Feitiço, Del Débbio, Petronilho, Grané e outros. A exceção foi a presença de Araken Patuska, do Santos, que brigado com o clube se colocou à disposição da CBD.
Alheios a politicagem dos dirigentes cariocas e paulistas, os torcedores compareceram em grande número no cais da Praça Mauá, no dia 2 de julho de 1930, para se despedirem da delegação brasileira rumo ao Uruguai.
Nossa delegação chegou a Montevidéu a bordo do navio Conte Grande, após cinco dias de viagem, contando apenas com os jogadores cariocas do Botafogo, Fluminense e Vasco. As exceções eram Poli, do Americano de Campos, e Araken Patuska, o único paulista. 
Treze países, convidados pela FIFA, disputaram a I Copa do Mundo: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Peru, Uruguai, Estados Unidos, México, Bélgica, França, Iugoslávia e Romênia.
O elenco brasileiro era composto por: Joel (América), Veloso (Fluminense), Brilhante (Vasco), Itália (Vasco), Zé Luiz (São Cristóvão), Benedito (Botafogo), Hermógenes (América), Fortes (Fluminense), Luiz Luz (Peñarol); Fausto (Vasco da Gama), Fernando (Fluminense), Benevenutto (Flamengo), Pamplona (Botafogo), Oscarino (Ypiranga - Niterói), Martim (Botafogo), Ivan (Fluminense); Araken (Santos), Doca (São Cristóvão), Carvalho Leite (Botafogo), Moderato (Flamengo), Manoelsinho (Canto do Rio), Nilo (Botafogo), Preguinho (Fluminense), Poli (Americano - Campos), Teófilo (São Cristóvão) e Russinho (Vasco).
             Henrique Coelho Neto, o Preguinho, sentiu grande emoção ao carregar a bandeira brasileira no desfile de abertura da Copa:
            “Quando entrei no estádio, carregando a nossa bandeira na abertura da Copa de 1930, o estádio todo ficou de pé e aplaudiu. Lembro-me bem. Nós entramos logo depois da delegação dos Estados Unidos. O Zé Luís chorava e berrava: “Peito erguido, peito erguido!”. Nós todos chorávamos de emoção”.
            Preguinho comentou sobre sua convocação e falou das dificuldades enfrentadas pela nossa delegação:
            “Iniciamos o treinamento, no Rio, com dois escretes cariocas. Eu fazia parte do B. Depois veio o treinamento em São Paulo. Para este treino, nem fui convocado. No seguinte, aconteceu à mesma coisa. Não me chamaram, mas o Del Débbio, zagueiro, protestou e acabaram me convocando.
            O técnico no começo era o Vinhais. Depois, não houve mais nenhum. Eu estava em boa forma, mas precisaria competir com Feitiço e outros do mesmo gabarito, quando estourou a bomba: São Paulo não cederia seus jogadores. Para completar, no último treino, o Carvalho Leite, nosso center-forward quebrou a mão.
            Viajamos assim mesmo, sem cozinheiro, levando o nosso próprio feijão e ficando hospedados no centro da cidade, no Hotel Colon, enquanto os outros ficavam em concentração fora da zona urbana. Éramos 27 pessoas e um grande chefe, o Ministro Afrânio Costa.
            O primeiro jogo foi contra a Iugoslávia. Fazia um frio danado. Seis graus abaixo de zero era uma temperatura que nem os próprios uruguaios se lembravam de ter sentido.
            Dominamos o jogo inteiro, mas eles em duas escapadas fizeram dois gols. Quando ainda faltavam trinta minutos para acabar o jogo eu descontei. Mas aí o goleiro pegou tudo, a bola foi várias vezes na trave e perdemos mesmo de 2 a 1.
            No jogo com a Bolívia mudaram tudo. Ganhamos de 4 a 0. Fiz dois gols. A nossa ala esquerda marcou nossos cinco gols na Copa”. (Declarações a Revista Fatos e Fotos – edição especial de 11 de junho de 1970).
O Brasil ficou no grupo II com a Bolívia e a Iugoslávia. A seleção brasileira estreou contra a Iugoslávia, em 14 de julho, no Estádio Parque Central de Montevidéu. Na derrota por 2 a 1, Tirnanic e Beck marcaram os gols iugoslavos e Preguinho fez o gol brasileiro. O atacante do Fluminense entrou para a história como o autor do primeiro gol brasileiro em Copas do Mundo.
Nosso técnico Gilberto de Almeida Rego colocou em campo: Joel (América), Brilhante e Itália (ambos do Vasco); Hermógenes (América), Fausto (Vasco) e Fernando (Fluminense); Poli (Americano), Nilo (Botafogo), Araken (Santos), Preguinho (Fluminense) e Teófilo (São Cristóvão).
Em 20 de julho, no Estádio Centenário, o Brasil venceu a Bolívia por 4 a 0. A equipe brasileira sofreu seis alterações: Veloso (Fluminense) entrou no lugar de Joel; na zaga Zé Luiz (São Cristóvão) substituiu Brilhante; e no ataque saíram Poli, Nilo, Araken e Teófilo e entraram Benedito (Botafogo), Russinho (Vasco), Carvalho Leite (Botafogo) e Moderato (Flamengo). Os gols brasileiros foram assinalados por Preguinho (2) e Moderato (2).
O resultado diante dos bolivianos não foi suficiente para classificar os brasileiros, porque a Iugoslávia, vencedora do Brasil, derrotou a Bolívia também pelo marcador de 4 a 0.
Na partida final da Copa de 1930, a seleção uruguaia, bicampeã olímpica, ganhou da Argentina por 4 a 2, sagrando-se campeã mundial.
O grande nome da seleção brasileira foi um maranhense de Codó. Fausto dos Santos disputou a Copa do Mundo de 1930 com 25 anos e suas excepcionais atuações impressionaram os uruguaios que o chamaram de “A Maravilha Negra”.
Sua carreira começou no Bangu. Após se transferir para o Vasco conquistou os títulos cariocas de 1929 e 1934. No exterior, Fausto defendeu o Nacional, de Montevidéu, o Barcelona e o Young Fellows, da Suíça.
Numa entrevista ao jornal A Noite, referindo-se a derrota do Brasil por 2 a 1 frente à Iugoslávia, Fausto desabafou:
“Araken jogou como uma bailarina; Poli tinha medo da própria sombra; Nilo fugia da bola e Teófilo nem se aproximava dela”.
            Na edição número 2 da Revista 10 - julho de 2004, Carvalho Leite, aos 92 anos, centroavante do Botafogo, que substituiu Araken contra a Bolívia, em entrevista a Cristina Rigitano, lembrou alguns fatos sobre o mundial no Uruguai:
“Nós viajamos a bordo de um navio. Fazia muito frio. Saímos sem festa. O futebol não era o que é hoje. A viagem foi muito cansativa.
Por conta do vento gelado, os jogadores passaram a viagem inteira, enclausurados nos camarotes do navio sem poder se exercitar o que comprometeu muito o desempenho dos brasileiros no mundial.
Fomos prejudicados pela viagem. Em outras condições, teríamos jogado muito mais. Preguinho era do Fluminense e jogava muito. Ele dava muito trabalho”.
Carlos Dobbert de Carvalho Leite nasceu em Petrópolis e começou a jogar futebol no Petropolitano. Veio para o Rio e tentou o Fluminense, porém não foi aprovado por Luís Vinhais, técnico tricolor.
No Botafogo, Carvalho Leite conquistou os títulos cariocas de 32 a 35. O atacante alvinegro liderou a artilharia nos campeonatos de 36 (16 gols), 38 (16 gols) e 39 (22 gols).
Em 1934, emprestado ao Vasco para uma excursão à Europa, viveu um dos momentos inesquecíveis de sua vida. Na Espanha, marcou um belo gol no espanhol Zamora, considerado o melhor goleiro do mundo.
Convocado para os preparativos com vista a Copa de 38, Carvalho Leite treinou apenas quinze minutos e foi cortado por Ademar Pimenta. Segundo ele, a atitude de Pimenta era resultado de rixa antigo




 
Preguinho comparava os uruguaios, bicampeões olímpicos, à seleção brasileira

 
Seleção brasileira antes da partida de estreia contra a Iugoslávia: em pé, Brilhante, Fausto, Hermógenes, Itália, Joel e Fernando; agachados. Poly, Nilo, Araken, Preguinho e Teóphilo 

 

 
Fausto descansa durante um treino da seleção brasileira

 
Carvalho Leite quando integrou à seleção brasileira na Copa do Mundo de 1930
 
 
               

segunda-feira, 5 de junho de 2017




                          60 anos do primeiro título carioca no Rio São Paulo

A campanha invicta no Rio São Paulo

O Fluminense foi o primeiro clube carioca a se sagrar campeão do Torneio Rio-São Paulo em 1957. Apesar das ausências de Castilho e Pinheiro, ambas por problemas médicos, a equipe tricolor fez uma campanha irretocável. Obtendo 7 vitórias e 2 empates.
Castilho foi substituído pelo excelente goleiro paraguaio Vitor Gonzales e no lugar de Pinheiro, que participou apenas de parte do último jogo frente ao São Paulo, atuou Roberto, revelado nas divisões de base.
 Waldo, artilheiro do torneio com 11 gols, teve atuações espetaculares e fez gols incríveis.  Marcou diante do América (1 a 0) e do Flamengo (2 a 1), dois contra o Palmeiras (5 a 1), dois frente ao Botafogo (3 a 3), um contra o Corinthians (3 a 2) e dois no último jogo com o São Paulo (2 a 1).
Na partida contra o Corinthians, no Maracanã, o Fluminense vencia por 2 a 0, gols de Escurinho, aos 20 minutos, e Waldo, aos 22 do 1o tempo, cedendo o empate na fase final. Paulo diminuiu aos 21 e Robson (contra) igualou o marcador.
Faltavam dois minutos para terminar o jogo, quando Aldo quicava a bola na grande área para repô-la em jogo. Waldo se aproximou e num rápido golpe com o pé direito tirou a bola do goleiro. Levou-a para a lateral da área, contornou o bico da grande área, ficou de frente para a meta adversária e chutou para marcar o gol da vitória tricolor. Naquela partida, o time mostrou que era sério candidato ao título. Não faltava espírito de luta em nenhum jogador do elenco tricolor.
O Vasco era o próximo obstáculo. O 1o tempo terminou com a vantagem de 2 a 0 para o Fluminense, gols de Telê, aos 13 minutos, e Escurinho aos 41. Ainda na primeira fase, Vitor Gonzales foi atingido por um violento pontapé no olho esquerdo. Preocupação na torcida e no vestiário pela possível ausência do goleiro paraguaio no restante da partida.
Alberto, goleiro reserva de Vitor, já estava preparado para substituí-lo. Porém, Vitor Gonzales numa atitude heroica, com a vista esquerda praticamente fechada, retornou para o 2o tempo e teve uma atuação excepcional.
No empate de 2 a 2 com o Santos, no Pacaembu, marcaram os gols tricolores Telê e Léo. O Fluminense conquistou o título, por antecipação, ao vencer a Portuguesa de Desportos por 3 a 1, no Pacaembu, no dia 28 de maio de 1957, gols de Liminha, Valdo (2) e Léo.
No último jogo, no Maracanã, contra o São Paulo, outra grande exibição de Waldo, que brindou a torcida com dois gols na vitória por 2 a 1. Maurinho fez o gol do tricolor paulista.

 
 
Ivan, que estrearia na partida seguinte com o Palmeiras, cumprimenta Jair Santana após a vitória sobre o América por 1 a 0
 
 
Roberto e Clóvis no vestiário após mais uma vitória do Fluminense na campanha invicta no Rio São Paulo
 
 
Waldo, Escurinho e Vitor Gonzales tomam banho depois da vitória sobre o Flamengo, que manteve o Fluminense na liderança
 
 
 
Acima a sequência do incrível gol de Waldo contra o Corinthians, no Maracanã
 
 
Vitor Gonzales substituiu à altura o titular Castilho durante o Rio São Paulo. O chute de Pinga na partida diante do Vasco é defendido pelo goleiro paraguaio
 
 
Comemoração do gol de Léo no empate de 2 a 2 com o Santos
 
 
 
Vitor Gonzales foi o grande herói na vitória de 2 a 0 sobre o Vasco da Gama
 
 
Antes da partida contra a Portuguesa de Desportos, no Pacaembu, Telê e Djalma Santos se cumprimentam na presença de Eunápio de Queirós. Com a vitória por 3 a 1, o Fluminense conquistava o título de campeão do Torneio Rio São Paulo
 
 
 
 
 
Acima a sequência do gol da vitória diante do São Paulo, marcado por Waldo
 
 
Elenco do Fluminense campeão do Torneio Rio São Paulo de 1957: Silvio Pirilo, Vitor Gonzales, Clóvis, Beto, Jair Santana, Roberto, Alberto, Pinheiro, Ivan, Altair, Jair Marinho, Waldo, Cacá; agachados, Escurinho, Léo, Alecir, Paulinho, Djair, Jair Francisco, Osvaldo e Robson