15 nos sem Mestre Ziza
Zizinho nasceu em São Gonçalo, na Avenida Paiva, numa casa que era sede
de um clube de futebol, o Carioca, do qual seu pai era presidente. O futebol
estava presente na vida do menino Tomaz desde seu nascimento. Cresceu, jogou
bola e ficou conhecido pelo apelido de Zizinho:
“Surgiu na infância. Eu tive seis irmãos: Zilda, Zélia, Almir, Zalmir,
Zilma e eles me chamavam de Tomazinho. Meu pai era Tomaz e daí surgiu Zizinho.
Meu nome é Tomaz Soares da Silva, meu pai era Tomaz e meu avô também. Esse nome
é herança de família”.
Os primeiros passos no futebol foram dados no Carioca FC, clube fundado
pelo velho Tomaz. Zizinho fala sobre essa época:
“Eu tinha 15 anos e comecei a disputar campeonatos pelo lado de lá. Com
l7 anos, me transferi para o Byron, porque o Carioca deixou de disputar pela Liga
de Niterói e do Byron vim para o Flamengo. Antes de ir para o Flamengo, eu
havia treinado no Bangu.
O Bonsucesso me convidou e o Roberto, aquele grande ponta da seleção
brasileira de 38, com o Hernandez me levaram para treinar no São Cristovão.
Mas, no São Cristovão, eu levei uma pancada muito violenta e não pude voltar,
porque parei quase seis meses de jogar.
Tive um convite de um treinador do América. Cheguei lá e ele olhou meus
63 quilos e não levou fé. Chamava-se Costa Velho. Não me deixou treinar, embora
o convite tenha partido dele mesmo, com cartão dele. Depois o Oto Vieira, eu já
estava com vontade de desistir, me convidou para treinar no Flamengo, a mando
de um senhor que era chefe nos Correios e Telégrafos aqui no Rio, que se chamava
Ari Fogaça e eu fui”.
Zizinho chegou ao Flamengo em
1939, com 18 anos e encontrou muitos craques consagrados:
“A Copa do Mundo tinha terminado
e lá na Gávea estavam Domingos da Guia, Walter, Leônidas, Alfredo Gonzales,
Valido, Jarbas. No meu primeiro treino, no Flamengo, estavam treinando Valido,
Leônidas, Caxambu, Gonzales e Jarbas. O Leônidas se machucou e o Flávio
perguntou: “quem é o menino de Niteroi, que joga na meia-direita? Eu disse: sou
eu. Então, entra no lugar do Leônidas. Comecei assim. Me saí bem e fiz um
contrato com o Flamengo”.
Foi onze anos, de 39 a 50, defendendo as cores rubro-negras, maior
parte da vida profissional de Zizinho. Ele nos falou sobre esse período:
“Em 39, o Flamengo foi campeão mas eu não participei. Faltavam três
partidas para terminar o campeonato e eu cheguei ao Flamengo, em 14 de outubro,
um mês depois de completar 18 anos.
O Flamengo jogou três partidas e joguei as três no time reserva. Naquela
época, era reserva e não aspirante. O jogador que não jogava em cima, jogava em
baixo. Tinham grandes equipes em baixo. Naquela época, tinha juvenis, amadores
e reservas. O Fluminense, por exemplo, teve uma época que o ataque reserva era
uma beleza. Jogavam Adilson, Juan Carlos, um jogador argentino que jogava muito
bem, Rongo, que era um canhão, Pedro Nunes e Hércules”.
O
Fluminense conquistou o bicampeonato, em 40 e 4l, mas Zizinho afirmava que o
Flamengo fez boas campanhas nos dois anos:
“Nós perdemos
um campeonato incrível. O famoso Fla-Flu, de bola na Lagoa. Nós não podíamos
perder aquele jogo. Nos tiraram daqui e nos levaram para Lorena, onde passamos
uns dez dias . Uma concentração muito pesada e viemos na véspera do jogo. Em
Lorena, estava fresquinho e aqui no Rio um calor de matar. Nosso time só veio
se encontrar quando já estava 2 a 0. Nós dominamos o jogo e fizemos 2 a 1 e 2 a
2. Nossa equipe terminou com o Domingos da Guia, que era um beque que pouco
saía lá dentro da área do Fluminense. A lagoa
era muito encostada ao campo e os caras jogavam a bola na lagoa. O Tim e o
Romeu já estavam mortos de correr. Sofremos muito, não conseguimos fazer o
terceiro gol e perdemos o campeonato de 41”.
Uma das maiores conquistas do Flamengo ao longo
de sua história foi o tri campeonato de 42 ,43 e 44. Zizinho nos contou sobre o
primeiro tri rubro-negro:
“Esse tri foi famoso e dramático, porque nós ganhamos bem o campeonato
de 42. Em 43, já foi um pouco mais difícil e em 44 estávamos sete pontos atrás
e partimos para ganhar e ganhamos. A final de 44 é que foi dramática, porque do
ataque do Flamengo, só ficaram eu e o Tião. O Perácio tinha ido para a guerra e
entrou o Tião. Só eu e o Tião tínhamos condições de jogo. Válido jogou as três
ultimas partidas do campeonato. Na véspera da final ele estava com quarenta de
febre. Nós deveríamos ter ganho o jogo antes. O Vasco teve dois lances de
saída, com duas grandes defesas do Jurandir e depois nós dominamos a partida.
Perdemos muitas oportunidades e o gol saiu porque nós merecíamos”.
Sobre o discutido gol de Valido,
que deu a vitória e o tri ao Flamengo, Zizinho deu sua versão:
“Eu duvido que alguém cabeceie uma bola cruzada se apoiando no ombro de
uma pessoa. Uma mente maldosa poderia criar uma coisa dessa. Vamos para o campo
e peça a qualquer jogador de futebol que cabeceie uma bola, apoiando antes a
mão no ombro de alguém. Se ele colocar as duas mãos no ombro do cara ele não
vai olhar mais a bola. O lance foi normal. Naturalmente, pegaram uma fotografia
do Valido caindo e na caída ele deve ter se apoiado nas costas do Argemiro, mas
a bola já estava no gol ”.
O Flamengo após a conquista do tricampeonato passou nove anos sem
conseguir o título do então campeonato carioca. Zizinho permaneceu vestindo a
camisa rubro-negra até l950 e nos falou sobre esse período:
“Bem, em 44, o time do Vasco já era melhor do que o do Flamengo.
Honestamente, já era melhor e nós tínhamos que ganhar aquela. Nosso time já
estava caindo e uma campanha de tricampeonato é muito cansativa. Os jogadores
jogaram em péssimas condições a ultima partida. O Vasco cresceu muito, o
Fluminense melhorou, também, a sua equipe.
O Vasco foi campeão em 45, o Fluminense em 46 e nós nos perdemos um
pouco. Já no tricampeonato, nós tínhamos perdido o grande jogador da equipe,
Domingos da Guia. Quando nós olhávamos para trás e não víamos o Da Guia
tomávamos um susto, porque ele era aquele homem frio, zagueiro que nunca mais
acho que vou ver igual e aquele amigo de todos os momentos, que animava a
gente. Nós éramos na maioria jovens ainda. Quando perdemos o Da Guia ...
Ganhamos o tricampeonato na marra, na vontade dos jogadores,
principalmente a ultima partida, quando não tínhamos ninguém em condições. O
Vevé estava com problemas no menisco; Pirilo estava em péssimas condições de
saúde; Valido entrou e na véspera estava com quarenta graus de febre. Precisava
muito coração para ganhar do Vasco, que era uma equipe que estava subindo”.
Zizinho nos contou sobre a séria fratura que sofreu em 1946:
“Foi no jogo Flamengo e Bangu, no campo do São Cristóvão. O jogo estava
ganho. Foi um ataque de estupidez minha. Estava 4 a 0 e eu tinha que andar em
campo e não estar me expondo. Fui virar uma bola na linha de fundo. O campo do
São Cristóvão estava meio irregular. Eu furei a bola e encontrei a trava do
Adauto, que era meu amigo.
Houve uma onda no Flamengo para processar o Adauto e eu pedi ao
falecido Cozzi que levasse o Adauto no hospital, onde eu estava e ele lá, com
um diretor do Flamengo, meio encabulado, olhava para mim meio triste. Eu disse,
negão o que aconteceu, aconteceu. Tem gente que quebra a perna andando na rua,
atropelado, descendo uma escada e eu quebrei dentro do meu trabalho. Não tem
nada haver e nós vamos continuar amigos até que a morte nos separe. Esqueça
isso, não arria a cabeça não, deite o cacete no próximo jogo, que isso é
acidente de futebol”.
Além das fraturas sofridas, “Mestre Ziza” passou por outros momentos
difíceis:
“No futebol acontece muita coisa. A gente na hora perde a cabeça. Um
dia eu parei de jogar no Instituto Abel, porque peguei o pé de um amigo no meu
peito e achei que podia perder a cabeça a qualquer momento. A gente leva a
pancada dói na hora. A gente perde a cabeça vai para forra. Na hora, nunca
pensa que pode quebrar. Quebrar é uma consequência do futebol e eu quebrei a
perna do Agostinho, em São Paulo. Me doeu mais quando eu quebrei a perna do
Agostinho do que quando me partiram a perna. Fiquei chateado, passei 15 dias em
Friburgo. Fui julgado pela justiça de São Paulo e fui condenado a 2 meses e 20
dias de prisão. Como era primário não cumpri pena.
Quando quebrei a perna, nunca pensei que deixaria de jogar. Minha
vontade era começar tudo novamente. Os clubes não tinham os recursos que têm
hoje. Eu me lembro, que no Flamengo, só tinha um secador de cabelo. Foi com ele
que cuidamos do Pirilo. Ele estava machucado, nós passamos benguê e ficamos com
o secador de cabelo na perna dele. Como é cara, tem que jogar domingo. Tem um
jogo do Vasco aí, já está todo mundo quebrado e ele levantou, no domingo, para
jogar.
Recebi o apoio do Dr. Paulo São Thiago, médico do Flamengo. Levei uns
seis meses sem jogar. Quando voltei, o pior era que os jogadores do Flamengo no
treino, não dividiam a bola comigo. A bola dividia e eles abriam. Eu tive que
pedir uma licença ao Flamengo de um mês e jogar umas peladas em Niterói,
naqueles campos bravos, onde o pau cantava. Fui testar, porque no Flamengo não
dava para testar. Fui jogar bem lá no meio, de centroavante, para ficar bem
junto daqueles zagueiros maus e aí voltei para começar tudo novamente.
Retornei contra o América. Jorginho me deu uma pancada na linha de
fundo e tive uma fratura de perônio. Com o perônio partido joguei duas partidas
no Flamengo. Só que a segunda partida, lembro bem, foi contra o Olaria, no
campo do Flamengo. Chovia muito e quando peguei a barca para Niterói, cheguei
do lado de lá e não pude saltar. Fui levado para casa pelos torcedores do
Flamengo que estavam na barca. Me doia tanto que fiquei gelado. No dia seguinte,
minha mãe que era enfermeira no hospital São João Batista, levou um médico de
Niterói, que constatou que havia uma fratura. Fiquei parado mais dois meses”.
No ano de 1950, numa transação milionária para a época, oitocentos mil
cruzeiros, Zizinho deixou a Gávea e seguiu o caminho de Bangu:
“Um dia estava em casa e recebi o convite do Dr. Silverinha para ir ao
escritório dele. O convite tinha sido feito, através do meu cunhado. Relutei em
atender, por se tratar de um diretor de outro clube Mas, atendendo o apelo do
meu cunhado fui até lá. Quando cheguei, ele virou-se para mim e disse que o
Bangu havia negociado meu passe com o Flamengo. Perguntou, em seguida, se eu
gostaria de jogar no Bangu. Olhei para o Silverinha e achei estranhas as palavras
dele, porque eu não sabia nada daquilo. Ele sentiu que eu não estava
acreditando e, então, pegou o telefone e ligou para o Dario de Melo Pinto,
presidente do Flamengo, que confirmou pelo telefone. O Dr. Silverinha me
perguntou se agora eu acreditava ou não. Eu respondi que botasse o contrato ali
para eu assinar.
Quando eu quebrei a perna, joguei todo um campeonato no Flamengo, com o
tornozelo enfaixado. Eu tirava após os jogos a bota de esparadrapo e meu
tornozelo ficava enorme. Eu passava a semana toda sem treinar e no domingo
jogava. Quando eu quebrei a perna, descobriram que eu tinha uma fratura no
tornozelo e passei um ano jogando assim, sem saber. A fratura já tinha
consolidado e só vim saber quando tiraram a radiografia da minha perna quebrada.
Eu me sacrifiquei demais pelo Flamengo. Eu me lembro que joguei uma partida e
ganhei um “Oscar”, do Jornal dos Sports. Havia comido um caranguejo naquela
semana e fiquei todo inchado. Cheguei ao Flamengo e fui jogar o Fla x Flu.
Até hoje, que eu saiba, não havia razão para que eu fosse negociado
dessa forma. Quem sabe bem essa historia é o Luis Carlos Barreto.
Apesar de nada
impor, porque minha mágoa era muito grande, a minha ida para o Bangu foi
financeiramente vantajosa. Um jornal deu uma quantia astronômica para a época.
O Silveirinha me chamou e perguntou se eu aceitava o que jornal publicou. Eu
respondi que ele não tinha compromisso com a imprensa e nem foi dito por mim.
Eu aceitei o que eu não tinha coragem de pedir. Fui ganhando seis vezes mais do
que ganhava no Flamengo. Deixei claro que assinaria em branco, porque estava
muito magoado com o Flamengo”.
Zizinho foi
comprado pelo Bangu, quando disputava o campeonato brasileiro pela seleção
carioca e já como jogador do Bangu integrou a seleção brasileira para o mundial
de 50:
“A partir de 42, eu sempre fui convocado como titular. O Tim sempre
dizia para olhar a camisa do Domingos da Guia, porque a que estivesse com ele
era a camisa do time titular.
Eu tive uma
torção no joelho e não pude jogar as duas partidas iniciais do mundial. Fiz um
teste na véspera do jogo contra a Iugoslávia, que era um jogo que eliminaria a
gente, caso não ganhasse. Na véspera, estava me arrastando, mas o Flávio me
obrigou a jogar essa partida. Eu me lembro que passei a noite quase em claro.
Os medicamentos naquela época eram poucos e me colocaram um remédio que se
usava no Joquéi Clube. Aquele negócio me queimava tanto, que eu levantei de
noite e entrei no chuveiro, no campo do Vasco, para lavar meu joelho.
No dia seguinte, enfaixaram meu joelho e eu joguei de joelheira.
Felizmente, durante a partida meu joelho melhorou. Terminei a partida bem e
joguei o resto do campeonato”.
No ano anterior ao da Copa, 1949, o Brasil foi campeão sul-americano. A
seleção perdeu para o Paraguai por 2 a 1 e na partida decisiva ganhou por 7 a
1. Sobre a perda do título mundial, Zizinho deu sua versão:
“São coisas que acontecem no futebol. Eu acredito se nós tivéssemos
jogado uma segunda partida contra o Uruguai não teria acontecido a mesma coisa.
O mesmo aconteceu com a Hungria, em 54, que era uma máquina.
Vocês também tiveram um pouco de culpa, porque foram montadas
fotografias com faixas do Brasil campeão do mundo. Na véspera do jogo nós
passamos o dia todo assinando milhares de fotografias, sem termos um minuto de
descanso. Houve desconcentração para uma partida de futebol, em São Januário.
Ninguém teve mais tempo para nada. Aquela multidão lá dentro...
O Vasco não teve culpa de nada. A culpa foi de quem nos levou para lá.
Num momento, eu comentei com o Rui, parece que nós já ganhamos o título. Vamos
ter um adversário difícil. Não é contra uma seleção da Europa, é contra o
Uruguai. Os uruguaios conhecem demais a gente.
No dia do jogo, nós fomos até retirados da sala de refeição, que acho
ser uma hora sagrada para o jogador. Era uma época política e São Januário
virou a sede nacional da política brasileira. Tiraram a gente da mesa para
ouvir discurso do senhor Cristiano Machado e da comitiva dele, composta por
senadores e deputados federais. Quando voltamos a sentar à mesa, tivemos que
levantar novamente, porque chegou o Ademar de Barros, com a sua comitiva.
Quer dizer, o jogo já não tinha mais valor algum. A coisa se tornou uma
festa, em São Januário, antes da partida. Se tivéssemos continuado em São
Conrado, seria concentração mesmo. Naquela época, pouca gente tinha automóvel.
A Barra da Tijuca era um lugar deserto, onde os caras tomavam banhos nus na
praia. Só tinha que ter medo dos aviões que davam razantes em cima dos caras.
Era uma Barra livre, mas difícil de chegar.
Eu tive medo da partida quando terminou o primeiro tempo, porque nós
até podíamos ter goleado os uruguaios. Quando a gente passa um tempo dominando
uma partida e o gol não sai, a gente sempre se assusta um pouco. Quando o gol
do Friaça saiu, nós já não estávamos bem como no primeiro tempo. A partir dali
não sei, houve um gelo no time, uma coisa incompreensível. Não vou
responsabilizar ninguém, porque isso foi geral, embora tenham jogadores, ainda
hoje, que foram responsabilizados demais. É o caso do Bigode, que até hoje
sente na carne. Bigode é um sujeito, que vai a poucos lugares. Uma das poucas
casas que ele frequenta é a minha e a do Ademir, porque ele sabe que lá em casa
eu não vou deixar falar de futebol com ele, a não ser que ele queira. Mas, se
houver uma conversa que não está agradando, eu corto. Não existe nenhum culpado
numa equipe de futebol. Quem ganha são os onze, quem perde são os onze”.
Em 1951, o Bangu realizou bela campanha e decidiu o título com o
Fluminense, numa série melhor de três e acabou vice-campeão:
“As equipes se equivaliam. Nós perdemos o título, porque perdemos três
jogadores na primeira partida e não tínhamos reservas. O Bangu tinha uma boa
equipe, mas não tinha jogadores à altura para substituir o Mirim, que foi
expulso de campo, o Rafaneli, com uma torção no joelho e o Mendonça que
fraturou a perna. Com isso nossa defesa se desarmou e ali perdemos o
campeonato”.
Em dezembro de 1955, o Vasco participou do Torneio do Atlântico com as
equipes argentinas do Independiente e do Racing. Zizinho, emprestado pelo
Bangu, vestiu a camisa cruzmaltina na derrota diante do Independiente por 4 a 1
e na vitória sobre o Racing por 3 a 2.
Zizinho ficou no Bangu até 1957, quando se transferiu para o São Paulo
F.C., já veterano, com 37 anos, e conquistou o título de campeão paulista
daquele ano:
“Eu vinha de Buenos Aires. Nós disputamos com uma seleção de novos, uma
partida com a Argentina, cujo resultado foi 2 a 2. Quando eu cheguei, no
aeroporto, fizeram o negócio e eu arriei minha mala e saltei em São Paulo.
Perguntei ao diretor do São Paulo, quando o São Paulo jogaria e ele me
respondeu que seria na 4a feira. Era uma 2a feira e o
adversário seria o Palmeiras. Para mim um bom jogo para estrear.
Na terça-feira, fizemos um treino de meia hora, porque eu queria saber
como jogava o time do São Paulo. O Mauro me explicou que com o Canhoteiro você
tem que jogar assim, com o Maurinho assim e o Gino você já conhece. Eu disse
que estava tudo bem. Fomos lá e ganhamos de 3 a 0 do Palmeiras. Dali saimos
goleando todo mundo, em São Paulo. Pegamos o Santos lá e metemos seis. O time
do São Paulo era muito bom e eu fui uma peça com mais experiência. Mauro,
Canhoteiro, Maurinho, Gino, Dino, Riberto, Poy formavam um belo time”.
Após a Copa de 50 vieram as
Copas de 54 e 58 e Zizinho não foi chamado:
“Em 53, eu tive uma briga com a CBD, no sul-americano, em Lima. Eles
fizeram mil burrices e eu paguei o pato Era muito comum no futebol brasileiro,
responsabilizar aqueles jogadores que tinham mais crédito.
Em 54, eu soube por amigos meus, entre eles o Teixeira Heizer, amigo do
Zezé, que a ordem da CBD era convocar o time que o Zezé quissesse, menos o
Zizinho. Então, abriram uma guerra comigo. Tudo bem. Em 57, falavam sobre a
minha ida para a seleção, mas não me convocaram”.
Zizinho encerrou sua brilhante carreira em 1958, como jogador do São
Paulo FC:
“Em 58, nós estávamos liderando o campeonato e faltavam cinco partidas.
Eu estava com meu joelho enorme e vim ao Rio falar com o Pedro da Cunha. Quando
cheguei ao aeroporto, encontrei com o time do São Paulo, que ia para São José
do Rio Preto. Partida difícil à beça, ninguém tinha vencido lá em São José e o
Renga (Renganeschi) disse para mim: “vamos até lá”. Eu vinha até de uma noitada
na Ilha. Tinha ido ver a Elisete Cardoso, na Ilha do Governador, e saí direto
para o aeroporto. Mas, tudo bem, fui para lá.
No São Paulo, não se podia sair, porque de 1o de janeiro a
31 de dezembro passava um livro de ponto, na casa da gente, às 11 da noite.
Quem não estivesse era multado em 60%. Então, a parada era difícil. Quando eu
vinha ao Rio eu aproveitava e dava uma saída.
Fui a São José do Rio Preto e chegando lá o time do São Paulo estava
muito desfalcado. O Gino não pode jogar, o Dino também não, eu também ia ficar
de fora e aí pedi ao Renga para entrar na partida. Ganhamos do América de São
José do Rio Preto e quando retornei a São Paulo eu dei uma saída. Essa saída
encerrou minha carreira, no São Paulo, porque no dia seguinte os jornais já
diziam que eu tinha sido multado em 40 %, que estive em inferninhos e em vários
lugares. Eu dei uma entrevista a Ultima Hora, de São Paulo, dizendo que o
pessoal do São Paulo estava equivocado, porque eu estive no restaurante
Muradas, que era o mais lindo de São Paulo, com uma orquestra de violinos e
depois fui ver um show, na boate Oásis. Não estive em inferninho, porque assim
a sociedade de São Paulo está frequentando péssimos lugares. Fui multado em
mais 20 % pela resposta.
Tínhamos um jogo difícil contra
a Portuguesa, que estava bem no campeonato, e eu joguei para não deixar os
colegas mal. Marquei o primeiro gol nos 42 segundos de jogo, vencemos de 3 a 0
e após a partida entreguei meu pedido de rescisão. Faltavam mais três partidas
e eu declarei que não era mais jogador do São Paulo. Vim embora e parei de
jogar”.
Considerado um dos mais notáveis jogadores de todos os tempos, “Mestre
Ziza” com toda a sua experiência deixou alguns conselhos:
“Primeiro, quem começa a jogar futebol é porque gosta. No momento, em
que deixar de gostar, deve parar. Só se pode fazer algo bem, com muito prazer e
muita vontade. Tem dia que a bola fica quadrada e cria vida própria. Nesse dia,
o homem tem que trincar os dentes e arrastar a bola. Ele não pode se deixar
vencer por causa disso, pelo dia mau. Ele deve sempre ter mais um pouco dentro
de si para dar, do que ser derrotado pela bola”.
Zizinho posteriormente rumou para o futebol chileno, acumulando as
funções de jogador e técnico do Audax Italiano.
Acompanhei a carreira de Zizinho a partir do final dos anos 40. Assisti
grandes exibições do Mestre. Duas ficaram nas minhas lembranças como
inesquecíveis. Diante da Iugoslávia quando o Brasil se classificou para a fase
final do mundial de 50 com a vitória por 2 a 0 gols de Ademir e Zizinho.
Outra excepcional atuação aconteceu contra a Itália, no Maracanã, em
1956. Vencemos por 2 a 0. Zizinho nessa partida deu um drible que a bola
parecia ter passado por dentro do italiano.
Depois da vitória sobre a Iugoslávia, o jornalista italiano Giordano
Fattori escreveu na Gazetta dello Sport: “O futebol de Zizinho faz recordar Da
Vinci, pintando alguma obra prima”.
O Da Vinci do futebol, o ídolo de Pelé, o eterno Mestre Ziza para todos
nós, partiu no dia 2 de fevereiro de 2002, há quinze anos.
Depois do início no Carioca, Zizinho vestiu a camisa do Byron
Zizinho no dia de sua estreia no Flamengo antes do jogo contra o Independiente em 1939: Artigas, Flávio Costa, Nilton, Médio, Walter, Domingos e Volante; Jarbas, Gonzales, Leônidas, Neon, Zizinho e Sá
Seleção carioca em 1942 com Zizinho: Jaime, Zarzur, Nilton, Jurandir, Domingos e Biguá; Pedro Amorim, Zizinho, Pirilo, Lelé e Vevé
Zizinho e Machado disputam a bola no Fla x Flu da lagoa que decidiu o campeonato carioca de 1942
Flamengo tricampeão carioca: Jurandir, Nilton, Quirino, Valido, Jaime, Bria, Pirilo, Zizinho, Tião, Biguá e Vevé
Seleção brasileira no sul-americano de 1945: Jaime, Norival, Rui, Oberdan, Domingos, Biguá e Flávio Costa;Tesourinha, Zizinho, Heleno, Ademir e Jorginho
Em 1946, recuperando-se da fratura que sofrera, Zizinho recebe os cuidados de Johnson na presença do goleiro Luiz Borracha
Na presença de Silveirinha, Zizinho assina contrato com o Bangu
No dia da assinatura do contrato com o Bangu, Zizinho é recebido por Domingos da Guia
Zizinho veste pela primeira vez a camisa do Bangu antes do treino
Zizinho vibra após marcar contra a Iugoslávia na Copa de 1950
Após a derrota para o Uruguai, Zizinho, ainda no gramado, é consolado por Máspoli
Time do Bangu que venceu o Fluminense por 1 a 0, gol de Vermelho, na última rodada do returno do campeonato carioca de 1951. O resultado provocou a realização da série melhor de três para a decisão do título: Rui, Alaine, Mirim, Mendonça, Osvaldo e Rafanelli; Djalma, Vermelho, Ziizinho, Moacir Bueno e Nívio
Zizinho, no vestiário, após a vitória do Brasil sobre o Chile, no campeonato sul-americano de 1953, em Lima
Em 1954, Zizinho e Tim, por ocasião da excursão do Bangu à Europa, diante do famoso quadro da Mona Lisa
Zizinho retornou à seleção brasileira contra o Paraguai, em 1955. Linha atacante o Brasil antes do jogo: Sabará, Didi, Zizinho, Valter e Escurinho
Antes da partida diante da Itália, em 1956, Zizinho recebe homenagem por parte dos italianos
No vestiário, Flávio Costa abraça Zizinho depois da grande exibição do Mestre no jogo contra a Itália
No intervalo do jogo Vasco x Bangu no returno do campeonato carioca de 1956, Zizinho foi expulso pelo árbitro Eunápio de Queirós
Zizinho liderou o time do São Paulo na conquista do campeonato paulista de 1957
Antes da partida São Paulo e Santos, Pelé cumprimenta Mestre Ziza, seu ídolo