Brasil, Copas e Craques
Em 34, um jogo e
nada mais – 2 -
Em 1934, as
divergências eram entre os favoráveis ao profissionalismo implantado no ano
anterior e os defensores do amadorismo. A CBD mantinha-se fiel ao amadorismo,
enquanto a Federação Brasileira de Futebol, recém criada, defendia o
profissionalismo e negava-se a ceder os jogadores dos clubes a ela filiados.
O boicote da FBF
chegou ao extremo, quando confinou alguns de seus principais jogadores numa
fazenda em Matão, no interior de São Paulo, bem longe do assédio de Carlito
Rocha, responsável de organizar a seleção brasileira. Sob forte vigilância
permaneceram incomunicáveis Gabardo, Junqueira, Lara, Romeu, Tunga.
No Rio de
Janeiro, a Liga Carioca de Futebol e a Associação Metropolitana de Esportes
Atléticos negaram-se a ceder seus jogadores. Diante de tais fatos, a CBD,
contrariando seus princípios, contratou alguns jogadores para formar a seleção
brasileira.
Carlito Rocha
conseguiu trazer de São Paulo os tricolores Armandinho, Luizinho, Silvio Hoffman
e Waldemar de Brito. Do Rio Grande do Sul vieram Luiz Luz e Patesko e do Rio de
Janeiro foram contratados Tinoco e Leônidas da Silva.
Leônidas
da Silva discorreu sobre algumas questões que envolveram a seleção brasileira
com relação à Copa de 34:
“Em
janeiro de 34, eu e o Domingos voltamos do Uruguai. Os nossos contratos tinham
terminado, mas assim que descemos do navio o Vasco nos contratou. Assinei um
contrato de 30 contos de réis e mais um ordenado mensal de 800 mil réis.
Naquela
época, o amadorismo no futebol morria definitivamente e tudo era feito em bases
profissionais. Mas muitos ainda não entendiam isso. A CBD brigou muito com os
clubes na ocasião para arranjar os jogadores que queria. Pagava a peso de ouro,
pois não havia convocação como hoje.
Dois
meses depois de ter assinado com o Vasco, o dirigente Luiz Aranha, da CBD, me
procurou em casa, oferecendo 30 contos e ordenado de um conto. Aceitei, mas o
Vasco e a imprensa não. O Jornal dos Sports chegou a abrir manchete com o
título: “Patriotismo por 30 contos de réis”, por causa da minha contratação.
Finalmente,
pegamos o navio que nos levaria a Gênova. Navegamos treze dias num mar terrível
e chegamos 48 horas antes do nosso jogo com a Espanha.
Sentimos,
logo de saída, que o campeonato seria da Itália. Mussolini comparecia
pessoalmente ao camarote real do Estádio Nacional de Roma para incentivar a
Squadra Azzura, toda composta de jogadores comprados e naturalizados, os
oriundi, enquanto os torcedores cantavam a Gioveneza, canção-símbolo da nova
Itália fascista.
Ante
aquele ambiente de extrema exaltação ficamos esmagados. Grande número de
torcedores nos chamava de “faccetas neras”, termo que usavam para chamar os
etíopes, contra quem iriam combater no começo da Segunda Guerra.
O
nosso time tinha sido escalado na viagem. A maioria entrou em campo, contra a
Espanha, ainda sentindo o balanço do mar. Perdemos por 3 a 1. Nosso gol foi
feito por mim, aos 11 minutos do 2º tempo. Foi apenas um gol de honra. Fomos
desclassificados ao perder esse primeiro jogo”. (declarações à Revista Fatos e
Fotos – edição especial de 11 de junho de 1970).
Com a
desistência do Peru, no grupo sul-americano, os brasileiros se classificaram
sem jogar. Participaram do mundial da Itália, além dos donos da casa, Brasil,
Alemanha, Argentina, Áustria, Bélgica, Egito, Espanha, Estados Unidos, França,
Holanda, Hungria, Romênia, Suécia, Suíça e Tchecoslováquia.
Após doze dias
de viagem a bordo do navio “Conte Biancamano” a delegação brasileira em
companhia dos espanhóis, que embarcaram em Barcelona, chegou a Gênova.
O sistema de
disputa era eliminatório e o sorteio apontou a Espanha como adversária do
selecionado brasileiro. Perdemos por 3 a 1 e fomos eliminados no dia 27 de
maio, em Gênova. Iraragorri abriu a contagem de pênalti aos 18 minutos, no
Estádio Luigi Ferraris. Langara, o grande artilheiro espanhol, marcou o segundo
gol aos 27, terminando o 1o tempo com a vantagem espanhola por 2 a
0. Leônidas fez o gol brasileiro no famoso goleiro Zamora, aos 11 minutos da
etapa final, e novamente Langara balançou a rede brasileira aos 32.
O Brasil teve
chance de empatar o jogo quando o árbitro invalidou um gol de Luizinho aos 14
minutos do 2o tempo e de virar o placar nos pés de Waldemar de Brito
que perdeu um pênalti, defendido por Zamora, aos 25 minutos da fase final.
Tinoco e Leônidas jogadores contratados pela CBD para a disputa do mundial de !934
Seleção brasileira antes de uma partida amistosa com a mesma escalação que perdeu para a Espanha: a partir da esquerda, Martim, Pedrosa, Sylvio Hoffman, Tinoco, Luiz Luz, Canali, Armandinho, Waldemar de Brito, Leônidas, Patesko e Luizinho
Leônidas por ocasião da Copa de 1934. Ele foi o autor do único gol brasileiro no mundial
A manchete do Correio Sportivo faz alusão à derrota do Brasil diante da Espanha
No dia 10 de
junho de 1934, em Roma, a Itália, ganhou da Tchecoslováquia por 4 a 2 e
conquistou o titulo de campeã mundial.