Camisa 10 ou camisa 8?
Ouço e leio com frequência os companheiros falarem e escreverem que falta
nos clubes e na seleção brasileira um camisa 10. Enfim, para eles não temos um
camisa 10 no futebol brasileiro. Que camisa 10 é esse?
Se os companheiros estão se referindo ao chamado meia armador de grande capacidade
de criação, com qualidade de passe e alta precisão nos lançamentos longos estão
equivocados.
Nos tempos do sistema WM, jogava-se com dois meias armadores, um pela
direita e outro pela esquerda. Desde 1947, com o uso da numeração nas camisas,
de 1 a 11 do goleiro ao ponta-esquerda, para felicidade dos narradores
esportivos, o meia-direita vestia a camisa 8 e o meia esquerda a camisa 10.
A seleção brasileira no sul-americano de 1949 e na Copa do Mundo de 1950
possuía dois extraordinários meias: Zizinho 8 e Jair Rosa Pinto 10. A dinastia
da camisa 8 começou com o Mestre Ziza e continuou a ser usada por seus
herdeiros Didi e Gerson. Na Copa de 1958, Didi atuou com o número 6. Na Copa de
1962, no Chile, Didi vestiu a camisa 8.
No final da década de 40 e início dos anos 50, Jair usava a camisa 10,
porque Zizinho era o dono da camisa 8. No Santos, o Jajá de Barra Mansa atuava
com a 8, porque a 10 passou a ser de Pelé.
Esses monstros sagrados nos encantaram, durante décadas, com passes e
lançamentos precisos e extraordinária visão de jogo. Eles eram os cérebros dos seus times. Todos
vestiram a camisa 8.
Em vários times a camisa 8 vestia os meias armadores, muitos ídolos de
suas torcidas. Zizinho, no Flamengo e no Bangu, Geninho, no Botafogo, Luizinho,
no Corinthians, Rubens, o Dr. Rubis, no Flamengo e na Portuguesa de Desportos,
Didi, no Fluminense e no Botafogo, Gerson, no Flamengo e no Botafogo, Neca, no
São Paulo, no São Cristóvão e na Portuguesa carioca, Walter Marciano, no Santos
e no Vasco.
Na metade dos anos 50 surgiu no futebol brasileiro o maior jogador de
todos os tempos: Pelé. Ele tomou conta da camisa 10 e a consagrou mundialmente.
A partir daí a camisa 10 passou a ser usada pelo principal craque em alguns
times, sendo usada indistintamente por armadores e atacantes.
Assim aconteceu com Zico, no Flamengo, Roberto, no Vasco, Dirceu Lopes,
no Cruzeiro, Ademir da Guia, no Palmeiras, Rivelino, no Fluminense. Atualmente,
o habilidoso Paulo Henrique Ganso, no São Paulo, e o veterano Alex, no
Coritiba, jogam com a 10.
Mesmo com a total desordem na numeração dos jogadores, agora para
infelicidade dos narradores esportivos, a camisa 10 ainda é usada pela maior
parte dos craques nos clubes e nas seleções. É o caso de Messi, no Barcelona e
na seleção Argentina e do nosso Neymar no selecionado brasileiro.
Portanto quando se afirma que a maioria das equipes
precisa de um camisa 10 é porque necessita de um jogador diferenciado, líder,
organizador do meio campo, sem esquecer, historicamente, dos eternos mestres
donos da camisa 8.
F 01 – Zizinho, o
árbitro Gimenez Molina e Maneco antes da partida Bangu e América, no campeonato
carioca de 1951.
F 02 – Didi ouve o hino
nacional brasileiro após a final da Copa de 1962, no Estádio Nacional de
Santiago, quando o Brasil derrotou a Tchecoslováquia por 3 a 1.
F 03 – Gerson, o nosso “canhotinha
de ouro”, na Copa de 70, no México.
F 04 – Equipe do
Botafogo campeã carioca de 1948: Zezé Moreira, Rubinho, Nilton Santos, Osvaldo
Baliza, Gerson, Ávila, Juvenal e o Doutor Paes Barreto; Paraguaio, Geninho,
Pirilo, Otávio com o Biriba e Braguinha.
F 05 – Linha atacante
do Corinthians, na década de 60: Marcos, Luizinho, Silva, Flávio e Gilson
Porto.
F 06 – Rubens Josué da
Costa, o Doutor Rúbis, quando vestiu a camisa do Flamengo.
F 07 – Uma das
formações do Vasco que disputou o campeonato carioca de 1955: Hélio, Paulinho,
Haroldo, Maneca, Orlando e Dario; Sabará, Valter Marciano, Vavá, Pinga e Silvio
Parodi.
F 08 – Time do São Cristóvão
em 1947: Mundinho, Santamaria, Índio, Souza, Florindo e Louro; Cidinho, Neca,
Eólio, Nestor e Magalhães.
Caro José Rezende,
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho esclarecedor.
Noto que falam muita besteira sobre o passado. É igual dizer que todo o ataque da seleção de 70 noa respectivos clubes usavam a 10. Tostão nunca usou a 10 que sempre foi do Dirceu Lopes e Gerson que estava saindo do Botafogo à época usava a 8. No São Paulo passou a usar a 10.