Magalhães, um ícone de "Figueirinha"
No dia 2 de
junho de 2000, levado pelo ilustre professor e prezado amigo Manoel Ribeiro,
fui à casa de Walter Magalhães, no Engenho de Dentro. Magalhães vestiu a camisa
do São Cristóvão, durante 12 anos, numa
época em que o clube não era um
mero participante dos campeonatos e torneios.
Magalhães das peladas de rua foi para o infantil do River, em 1936, e
lá ficou até 1938, jogando nos dois últimos anos no juvenil. Em 39, ingressou
no São Cristóvão:
“Comecei no River, na Rua João Pinheiro, em Piedade. No River eu jogava
na ponta-direita, porque eu chuto com as duas pernas. Dali passando pelo
infantil e juvenil, até que um dia um jogador do primeiro time do River, que
fazia roupa com o treinador do time juvenil do São Cristóvão, Joaquim Alves
Martins, que gostava de preparar sempre jogadores com dois anos de clube me
apresentou ao técnico. Num ano ele aclimatava e no ano seguinte ele lançava.
Assim eu fui para o São Cristóvão. Fui lançado um ano na direita e no outro na
esquerda.
No juvenil encontrei o Augusto, capitão da seleção brasileira no
mundial de 50. O time principal já estava feito. Era um timaço e a linha era
Roberto, Villega, Caxambu, Nena e Carreiro.
Eu ia assistir aos jogos à tarde, porque nós do juvenil jogávamos de
manhã. Eu ia aprender. Carreiro foi um professor para mim. Depois Carreiro foi
para o Fluminense e eu entrei no lugar dele. Fui lançado contra o Canto do Rio,
no campo do América”.
Já com boas atuações em 42, a equipe do São Cristóvão atingiu o auge em
1943, quando foi campeã do Torneio Municipal e realizou belíssima campanha no
campeonato carioca:
“Em 43, fomos campeões do Torneio Municipal e no campeonato estávamos
até as quatro últimas rodadas na frente do Flamengo e do Fluminense. Devido a
uma contusão, Alfredo, nosso armador, ficou de fora três partidas. Perdemos
para o Bangu por 5 a 3, lá na Rua Ferrer. Eles soltavam fogos e tínhamos medo
de um foguete bater na nossa cara, quando íamos bater um lateral. As bombas
estouravam atrás do gol do Joel, que ficava assustado e soltava a bola.
Para o Madureira perdemos por 3 a 1, em Conselheiro Galvão e para o
América por 5 a 1, em São Januário. Aí voltou o Alfredo ao time. Vencemos o
Fluminense por 3 a 1, demos o bi campeonato ao Flamengo e terminamos em 3 º-
lugar”.
O fato marcante para Magalhães no campeonato de 43 foi a histórica
goleada por 6 a 1 sobre o Fluminense:
“O Fluminense vinha invícto na tabela e caiu por 6 a 1, em Figueira de
Melo. Todos os gols saíram dos meus pés, modéstia à parte. Inclusive os dois
finais do Nestor de cabeça. O São Cristóvão partiu para arrasar. Caxambu fez
seis, para valer quatro, e dois do Nestor de cabeça, em corners batidos por
mim.
O nosso presidente Leopoldo Del Vale, que era rico, deu a cada um uma
nota de 500 cruzeiros de bicho. A nota era tão grande que parecia um lençol.
O time campeão do Torneio Municipal, que perdeu apenas para o Botafogo
por 5 a 3, foi o mesmo do campeonato: Joel, Mundinho e Augusto; Bianchi, Papeti
e Castanheira; Santo Cristo, Alfredo, Caxambu, Nestor e Magalhães . O
artilheiro do torneio foi Heleno de Freitas, do Botafogo, com 11 gols e o
técnico do São Cristóvão era Abel Picabéa.
Picabéa tinha sido antes half do São Cristóvão, formando a linha média
com Dodô e Afonsinho. Ele tinha carta branca e quando dava instrução só tinha o
diretor de esporte lá . Quando tentava entrar outro diretor dizia que não:
“aqui só quem é jogador; fala com eles depois do jogo”. As críticas feitas ao
jogador eram respondidas por ele diante da diretoria. Ele assumia o time.”
Os adversários sempre encontravam dificuldades para conseguir bons
resultados, em Figueira de Melo, e o São Cristóvão manteve-se invicto por longo
tempo jogando em casa :
“Conhecíamos o campo palmo a palmo, onde o nosso time já
treinava há dois anos. Tínhamos muito conjunto. Quando um jogava a bola, o
outro sabia o que fazer e naquele tempo no futebol quem corria era a bola e não
o jogador. Em dois lances a gente ia no gol, ainda mais em Figueira de Melo,
que era um campo de dimensões pequenas. Dia de treino os operários das fábricas
dali, largavam e iam lá encher o campo para ver a gente treinar. Era
maravilhoso, sabe”.
Os chamados clubes pequenos eram importantes celeiros de bons jogadores
para os grandes clubes. Esse foi um dois fatores que contribuiram para o
enfraquecimento do time do São Cristóvão nos anos seguintes :
“No ano em que aparecia um jogador bom, no outro ano ele já não estava
mais no time. Nunca formamos depois disso um time com conjunto. Augusto foi para
o Vasco; Santo Cristo para o Fluminense; Caxambu para o Palmeiras; João Pinto
para o Vasco; Papeti para o Botafogo; Mundinho para o América.”
Vasco e Palmeiras se interessaram por Magalhães, mais ele decide ficar
em Figueira de Melo:
“Eu trabalhava, também, numa alfaiataria. Meu patrão era vascaino e
queria me levar para o Vasco. O Vasco me dava vinte e eu fiquei no São
Cristóvão por cinco. O Palmeiras ofereceu pelo meu passe 100 mil cruzeiros.
Devido ao tempo de clube, apanhei amor a camisa. Eu gostava do São Cristóvão e
não queria trocar de clube”.
Os jornais referiam-se ao São Cristóvão como a “maquina”
sãocristovense, em razão das excelentes exibições da equipe, não só no Rio como
na excursão realizada pelo Brasil. Magalhães lembrou de alguns resultados:
“Não chegamos a ir para o exterior, por causa da guerra. Em São Paulo,
vencemos a Portuguesa de Desportos, no Pacaembu por 7 a 2 .Em Belém, derrotamos
o Paysandu por 4 a l e no Recife estreamos com uma vitória sobre o Sport por 1
a 0. No jogo na capital paulista marcaram para os alvos Nestor (2), Santo
Cristo (2), Alfredo, João Pinto e Magalhães, descontando para Portuguesa,
Xavier e Charuto.
Em Recife, o São Cristóvão venceu o Sport com Velez (goleiro uruguaio),
Pelado e Mundinho; Bianchi; Papeti e Castanheira; Santo Cristo; Alfredo, Mical,
Nestor e Magalhães. João Pinto não jogou porque estava na seleção carioca”.
Em 1945 , surgiu a oportunidade de Magalhães integrar a seleção
carioca:
“Luis Vinhais convocou três
jogadores do São Cristóvão para completar o Vasco, para jogar contra os
mineiros. Fomos eu, Mundinho e Nestor. A ala esquerda, eu e Nestor, era reserva
de Jair e Chico. Eu treinei melhor do que o Chico, dito pelo Vinhais, na
véspera do jogo . Ele me abraçou e foi comigo até o dormitório, dizendo que eu
tinha que jogar. Mas, ele não podia ir contra a imprensa, que já tinha escalado
o time. Eu perdi a oportunidade de jogar ao lado do Jair da Rosa Pinto ”.
Em 48, o São Cristóvão derrotou o Botafogo na estréia do campeonato por
4 a 0 e Magalhães falou com entusiasmo sobre a partida:
“Demos um baile e o Neca foi a grande estrela do jogo. Neca, na
escolinha do Botafogo, formou grandes jogadores”.
Algumas decepções e problemas familiares contribuiram para Magalhães
encerrar a carreira:
“Minha filha estava para nascer e eu precisava de dinheiro para pagar a
parteira. Pedi para fazer parte da equipe, que ia jogar um amistoso, em
Friburgo, para ganhar uma gratificação de 500 cruzeiros. Aimoré Moreira,
responsável pelo grupo, quando voltamos para o Rio, disse que o dinheiro
prometido tinha que ser entregue a diretoria. A promessa era de pagar após o
jogo .
Eu tinha casado de pouco e pensava em sair do São Cristóvão e ir para o
Fluminense. Meu irmão Osvaldinho já tinha estado lá e o diretor de esportes me
afirmou que se a situação ganhasse as eleições, eu poderia me considerar
jogador contratado pelo Fluminense. Fui ao clube no dia seguinte e a oposição
havia vencido. Aí um diretor de esportes, que era do amador, subiu e quis fazer
renovação de valores. Quando eu fui saber se ia ficar ou não, ele disse que com
28 anos eu estava fora da idade de contratação. Poucos meses depois foram pegar
o Esquerdinha, no Olaria, com 35 anos. Ali eu me desgostei por completo.
Ao mesmo tempo, meu sogro precisou da minha ajuda. Ele era farmacêutico e tinha uma farmácia na Penha. Ele e minha sogra já tinham certa idade. Só tinham duas filha e fui para lá trabalhar, fazendo plantão aos sábados."
Em 1942, Magalhães fazia a sua estreia na equipe titular do São Cristóvão: Gualter, Papeti, Joel, Mundinho, Castanheira e Augusto; Santo Cristo, Alfredo, Caxambu, Nestor e Magalhães
Santo Cristo e Magalhães fazem parte da gloriosa história do São Cristóvão
Campeões do Torneio Municipal de 1943: Joel, Mundinho e Augusto; Bianchi, Papeti, Castanheira e Santo Cristo; Alfredo, João Pinto, Nestor, Magalhães e Abel Picabéa
Na vitória por 4 a 2 sobre o Olaria, em Figueira de Melo, no campeonato carioca de 1948, Magalhães vence o goleiro Zezinho, observado por Lamparina.
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