Na França, grandes craques
e muitos problemas - III -
Finalmente, o futebol
brasileiro conseguiu reunir seus melhores jogadores para representá-lo no
mundial de 1938, na França. Sem conflitos entre as entidades dos principais
centros futebolísticos nacionais, Rio e São Paulo, Ademar Pimenta, o técnico
escolhido pela CBD, pode convocar os jogadores de sua preferência. Possuíamos
grandes craques e a maioria esmagadora dos torcedores brasileiros aprovou os
nomes convocados pelo nosso treinador.
Desde o período de preparação
na cidade mineira de Caxambu, segundo os jornalistas que cobriam o dia-a-dia da
seleção, a disciplina ficava aquém do desejável num grupo que se preparava para
uma Copa do Mundo. Com frequência, os atrativos noturnos dos hotéis da bela
estância hidromineral encantavam os integrantes da nossa seleção.
A seleção finalizou os
treinamentos no Rio e em São Paulo. Com a desistência da Bolívia, seu
adversário nas eliminatórias, o Brasil se classificou mais uma vez sem jogar.
Foram classificados para o
mundial de 1938 quinze países: Alemanha, Bélgica, Brasil, Cuba, França,
Holanda, Hungria, Índias Holandesas, Itália, Noruega, Polônia, Suécia, Suíça,
Romênia e Tchecoslováquia. O sistema era mais uma vez eliminatório.
No dia 30 de abril, a
delegação deixou o Rio de Janeiro a bordo do navio “Arlanza”. Quinze dias
depois os brasileiros estavam em Paris. O primeiro adversário era a Polônia, em
Estrasburgo, no dia 5 de junho.
O elenco estava dividido em
dois grupos: a equipe azul formada por Batatais (Fluminense), Domingos
(Flamengo) e Machado (Fluminense), Zezé Procópio (Botafogo), Martim Silveira
(Botafogo) e Afonsinho (São Cristóvão); Lopes (Corinthians), Romeu
(Fluminense), Leônidas (Flamengo), Perácio (Botafogo) e Hércules (Fluminense);
e a equipe branca com Walter (Flamengo), Jahú (Vasco da Gama) e Nariz
(Botafogo); Brito (América), Brandão (Corinthians) e Argemiro (Portuguesa
Santista); Roberto (São Cristóvão), Luizinho (Palestra Itália – SP), Niginho
(Vasco da Gama), Tim (Fluminense) e Patesko (Botafogo).
Deixando-se influenciar pelas
opiniões de dirigentes e jornalistas, Ademar Pimenta demonstrava total
insegurança quanto à escalação do time brasileiro. Uma das críticas feitas a
Pimenta era a separação das alas formadas por Tim e Hércules, no Fluminense, e
por Perácio e Patesko, no Botafogo.
O jogo de estréia contra a
Polônia foi dramático. O campo enlameado dificultava as ações das duas equipes
e as mudanças no placar traziam a incerteza quanto ao resultado da partida.
Leônidas
abriu o marcador aos 18 minutos de jogo. Cinco minutos depois, Szerfke, de
pênalti, igualava o marcador. Romeu desempatava logo a seguir aos 25. Faltava
um minuto para terminar o 1o tempo e Perácio fazia o terceiro gol
brasileiro. Aos 5 minutos do 2o tempo, Piontek marcou o segundo gol
polonês e nove minutos depois Willimowski empatou. Perácio aos 26 venceu
novamente o goleiro Madejski. Faltavam dois minutos e a Polônia igualou o
marcador por intermédio de Willimowski. Tudo igual: 4 a 4. Agora a prorrogação.
O
árbitro sueco I. Eklind autorizou a saída e o Brasil partiu para o ataque em
busca do desempate. Aos três minutos Leônidas assinalou o 5o gol
brasileiro e aos 12 fez o sexto. Os poloneses não se entregaram e marcaram aos
dois minutos da segunda fase do tempo extra. Final Brasil 6 x Polônia 5.
O Brasil jogou com Batatais
(Fluminense), Domingos (Flamengo) e Machado (Fluminense); Zezé Procópio
(Botafogo), Martim (Botafogo) e Afonsinho (São Cristóvão); Lopes (Corinthians),
Romeu (Fluminense), Leônidas (Flamengo), Perácio (Botafogo) e Hércules
(Fluminense).
O
segundo adversário do Brasil era a Tchecoslováquia, vice-campeã mundial de 34.
A partida no Estádio Municipal, em Bordeaux, no dia 12 de junho, terminou com o
empate de 1 a 1. O time sofreu apenas uma alteração com a entrada de Walter no
lugar de Batatais.
Leônidas
inaugurou o placar aos 30 minutos e no segundo tempo Nejedly marcou para os
tchecos aos 19 minutos, batendo uma penalidade máxima cometida por Domingos da
Guia.
Os
lances violentos se sucediam, obrigando o árbitro húngaro Paul Hertzka a
expulsar três jogadores, além de vitimar outros três. Zezé Procópio saiu mais
cedo por atingir Nejedly com um pontapé; Machado e Riha foram expulsos por
agressão mútua; Perácio e Leônidas se contundiram gravemente; e o goleiro
Planicka teve a clavícula deslocada num choque com Perácio.
O
Brasil atuou com Walter (Flamengo), Domingos e Machado; Zezé Procópio, Martim e
Afonsinho; Lopes, Romeu, Leônidas, Perácio e Hércules.
Como o vencedor seria um dos
semifinalistas, houve a necessidade da realização de novo jogo. Dois dias
depois estavam em campo novamente no Estádio Municipal de Bordeaux as seleções
do Brasil e da Tchecoslováquia.
Ademar Pimenta mudou
totalmente a equipe brasileira. Leônidas foi a exceção. Mantido no comando do
ataque, teve sua contusão agravada e ficou fora do jogo com a Itália. O Brasil
terminou o primeiro tempo perdendo por 1 a 0 gol de Kopecky aos 30 minutos. Na
etapa final, o time brasileiro conseguiu virar o marcador e chegou à vitória
com gols de Leônidas aos 11 minutos e de Roberto aos 18.
A seleção brasileira formou
com Walter (Flamengo), Jahú (Corinthians) e Nariz (Botafogo); Brito (América),
Brandão (Corinthians) e Argemiro (Portuguesa Santista); Roberto (São
Cristóvão), Luizinho (Palestra Itália – SP), Leônidas (Flamengo), Tim
(Fluminense) e Patesko (Botafogo).
Classificado para as
semifinais, o Brasil teve pela frente a Itália, campeã mundial de 1934. O
problema era a ausência de Leônidas, sem condição de jogo, devido à contusão
sofrida na primeira partida diante dos tchecos. Seu natural substituto seria
Niginho, do Vasco da Gama.
O
Dr. José Maria Castelo Branco, chefe da delegação e que exercia também a função
de médico, falou com Ademar Pimenta para não escalar Niginho, porque a
Federação Italiana mantinha seu contrato com a Lazio perante a FIFA. O jogador
havia deixado o clube italiano, retornando ao Brasil para jogar no Palestra
Itália (atual Palmeiras).
O
técnico brasileiro optou pela manutenção de Luizinho, barrando Tim e escalando
Romeu de centro-avante. Em Marselha, no Estádio Jean Boin “Velodrome”, no dia
16 de junho, a Itália ganhou do Brasil por 2 a 1.
Os
comandados de Vittorio Pozzo abriram o placar aos 10 minutos do 2o
tempo por intermédio de Colaussi. Meazza aumentou a vantagem de pênalti aos 15,
diminuindo as chances de reação da seleção brasileira. Romeu fez o gol
brasileiro aos 42 minutos.
Perdemos
para a Itália com Walter, Domingos e Machado; Zezé Procópio, Martim e
Afonsinho; Lopes, Luizinho, Romeu, Perácio e Patesko.
Fomos
disputar o 3o lugar com a Suécia que havia perdido na outra
semifinal para a Hungria por 5 a 1. Enfrentamos os suecos em Bordeaux e
vencemos por 4 a 2. Batatais retornou à meta brasileira; Brandão entrou no
lugar de Martim; Roberto substituiu Lopes na ponta-direita; Romeu ocupou sua
posição de meia; e Leônidas retornou ao comando do ataque.
A
exibição brasileira foi muito elogiada, destacando-se a atuação de Leônidas. O primeiro
tempo terminou com a vantagem sueca por 2 a 1 gols de Jonasson aos 13 minutos,
Nyberg aos 23 e Romeu aos 42 minutos. Leônidas marcou aos 7 e aos 25 do segundo
tempo e Perácio encerrou o marcador aos 35 minutos.
Conseguimos
a 3a colocação na Copa de 38 jogando com Batatais, Domingos e
Machado; Zezé Procópio, Brandão (Corinthians) e Afonsinho; Roberto, Romeu,
Leônidas, Perácio e Patesko.
As
emoções da Copa de 38 foram transmitidas pelo locutor esportivo Gagliano Neto
através das ondas da Rádio Cruzeiro do Sul. Os filmes das partidas do Brasil
eram aguardados com ansiedade e lotavam a sala do cinema Capitólio, na
Cinelândia.
O
Brasil fizera uma boa campanha e seu futebol passou a ser admirado pelo resto
do mundo.
Foto 01 – Mensagem do técnico Ademar Pimenta
para a torcida brasileira antes de embarcar para a França.
Foto 02 – Jogadores integrantes do elenco
brasileiro na Copa do Mundo de 1938: a partir da esquerda de cima para baixo,
Brandão, Batatais, Martim, Leônidas, Domingos, Patesko, Perácio, Nariz,
Afonsinho, Hércules, Roberto, Romeu, Argemiro, Lopes, Walter, Jahu, Zezé
Procópio, Brito, Ademar Pimenta (técnico), Niginho, Luizinho, Tim e Machado.
Foto 03 - A Gazeta de Notícias de 5 de junho de
1938 anunciava a estréia do Brasil na Copa do Mundo.
Foto 04 - A Gazeta de Notícias de 7 de junho de
1938 fazia referência a atuação de Leônidas na partida entre Brasil e Polônia.
Foto 05 – O cinema Capitólio, na Cinelândia,
projetava os filmes dos jogos do Brasil. Vemos o anúncio da partida Brasil 6 x
Polônia 5.
Foto 06 - Domingos disputa a bola com o
atacante italiano, Walter sai para defender e Martim observa.
Foto 07 - A seleção brasileira formada, no
Estádio Municipal de Bordeuax, antes da partida que decidiu o 3o
lugar da Copa de 38: a partir da esquerda, Leônidas, Batatais, Perácio,
Domingos da Guia, Brandão, Zezé Procópio, Machado, Roberto, Romeu, Afonsinho,
Patesko e Ademar Pimenta.
Foto 08 - Primeiro gol brasileiro marcado por
Romeu diante da Suécia.
Foto 09 - Uma multidão aguardava no porto do
Rio de Janeiro a chegada dos jogadores brasileiros.
Foto
10 - A delegação brasileira é recebida festivamente na sede do Botafogo de
Futebol e Regatas.
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