50 anos da final que não acabou
Depois de dois vice-campeonatos consecutivos veio a consagração em
1966. O Bangu foi o melhor em tudo. Sua defesa sofreu apenas 8 gols. O ataque
marcou 50 gols, sendo Paulo Borges o artilheiro do campeonato com 16 gols.
Foram 15 vitórias, dois empates e uma derrota para o Flamengo por 2 a 1, no 1o
turno.
Na partida entre Bangu e Flamengo, os torcedores presenciaram um dos
lances mais emocionantes da história do Maracanã. Almir, o “pernambuquinho”,
marcou um gol arrastando a cara na lama.
A bola, com o campo enlameado, parou perto da linha de gol e foi
empurrada com a cabeça por Almir diante de um Ubirajara caído e tentando
desesperadamente evitar com uma das mãos a queda de sua meta.
A partida da decisão histórica de 1966 não terminou. Aos 25 minutos do
2o tempo quando o Bangu ganhava por 3 a 0, vários jogadores
brigaram. O árbitro Airton Vieira de Moraes, o popular “Sansão”, expulsou cinco
jogadores do Flamengo: Almir, Itamar, Silva, Paulo Henrique e o goleiro
Waldomiro; e quatro do Bangu: Ari Clemente, Ubirajara, Luís Alberto e Ladeira.
Como nenhuma partida pode começar ou ser reiniciada com menos de sete jogadores
por equipe, Sansão encerrou o jogo.
Entrevistei Ubirajara que nos falou sobre o jogo e explicou a razão do
conflito generalizado entre os jogadores:
“Quando chegou em 66, o time estava bem armado. Com
toda a sinceridade não precisava nem de treinador. O nosso querido Alfredo
Gonzales chegava para gente e dizia: “Moçada, vamos lá. Aquilo de sempre”. Tudo
que o mestre Tim deixou, ele seguiu perfeitamente.
Sabíamos que tudo poderia acontecer naquela decisão com
o Flamengo. Primeiro a torcida iria lotar o Maracanã, sem deixar nenhum espaço
para os banguenses. A torcida do Bangu era pequena, mas tinha o reforço dos
tricolores, vascaínos e botafoguenses. Segundo, sabíamos como o Flamengo
jogaria, porque acompanhávamos de perto. Tanto que no sábado, dois jogadores
foram fazer testes para ver se tinham condições de jogo ou não. Esses jogadores
voltaram a sentir a contusão. Com menos dois o jogo ficava mais tranquilo.
No início da partida eu salvei um gol numa cabeçada do
Silva, desviando a bola que foi bater no travessão. Na volta armamos o contra
ataque e o Ocimar de longe fez o primeiro gol. Começamos a tocar mais a bola,
já que o Flamengo tinha que empatar e desempatar. O Bangu jogava pelo empate.
Ainda, no primeiro tempo marcamos o segundo gol por intermédio do Aladim. Aí, o
Flamengo começou a se desesperar.
A briga do Almir não era comigo e sim com o Ladeira,
que deu uma cotovelada no Paulo Henrique. Quando o Paulo Henrique queixou-se ao
Almir, ele partiu para cima do Ladeira, que tentou correr. Como as entradas dos
túneis para os vestiários ficavam fechadas, o Ladeira voltou. Ao passar pelo
Itamar, ele levou um pontapé no peito e caiu. O Almir partiu para pisar o
Ladeira. Quando eu vi, saí do gol e segurei o Almir. O Sansão, que era o
árbitro expulsou o Itamar e o Almir. Aí, o Flávio Soares de Moura, diretor do
Flamengo, mandou o Almir me tirar de campo. Ele, então, partiu para cima de
mim. O Ari Clemente, nosso lateral esquerdo, virou-se para o Almir e disse: “Já
que você quer briga, vamos brigar”. Tudo recomeçou. Depois o Airton Vieira de
Moraes expulsou quatro jogadores do Bangu e cinco do Flamengo”.
Outros personagens da final carioca de 1966 falam
sobre aquela tarde de 18 de dezembro de 1966::
Jaime
“Os que foram expulsos tinham descido. Aí, eu chamei e
falei para voltar porque nós vamos dar a volta olímpica. Foi a volta mais
bonita que eu dei na minha vida foi aquela. Eu sou Bangu porque ganhei o
campeonato de 66. Eu me sinto até hoje campeão”.
Ocimar
“Eu dei uma
limpada, cortei e joguei lá dentro. O Valdomiro coitado...”.
Paulo Borges
“Fomos para o Maracanã no ônibus velho. Na chegada
você só via torcedores do Flamengo e uns dez com a camisa do Bangu. Não é mole.
Nós bancamos o burro, deveríamos ter entrado junto com o Flamengo. Entramos
antes e levamos a maior vaia da nossa vida. Levamos vaia de no mínimo 108 mil
pessoas das cento e dez que estavam no estádio. As pernas tremiam. Quando o
Flamengo entrou, eu disse é hoje...”
“Cabralzinho pegou a bola e só estávamos eu e o Paulo
Henrique. O Flamengo adiantou a zaga e o Cabralzinho lançou para mim. Eu recebi
na frente e fui. Só, tínhamos eu, o goleiro e a rede. Existe uma foto que até
hoje não entendi como me pegaram sorrindo para fazer o 3o gol”.
Cabralzinho
“Tim montou a grande máquina do Bangu. Zizinho, eu
diria que lamentavelmente era o oposto do Tim. Ele exigia tanto dele que não
conseguia transmitir para nós jogadores tudo aquilo o que ele sabia fazer em
campo como jogador. O curioso é que ele em alguns treinamentos, apesar da
idade, participava e ainda executava muito bem.
“Os oito minutos iniciais foram terríveis para o
Bangu. Depois começamos a nos posicionar melhor, a nos conscientizar melhor. Os
gritos foram diminuindo e o Bangu crescendo em campo. Ainda no primeiro tempo,
Ocimar 1 a 0”.
Ladeira
“Eu e o
Paulo Henrique discutimos numa bola em que nós dividimos um pouquinho mais
firme. Eu, no momento, perdi a cabeça, talvez pela pressão do jogo, e dei um
tapa no rosto dele”.
Aladim
“Cabralzinho e Paulo Borges
fizeram a tabela, a bola foi para o Jaime que me lançou entre os beques, na
quina da grande área do lado esquerdo. Eu chutei cruzado. Valdomiro não teve
nem jeito”.
Na semana da final com o Flamengo, Alfredo Gonzales e Ubirajara conversam no treino
Com Ubirajara à frente, a equipe do Bangu entra em campo para enfrentar o Flamengo
Almir corre atrás de Ladeira
Almir parte para agredir Ubirajara
Jogadores do Bangu e do Flamengo se envolvem na briga
Os campeões dão a volta olímpica
A excelente equipe do Bangu campeã carioca de 1966: Mario Tito, Ubirajara, Luís Alberto, Ari Clemente, Fídélis e Jaime; Pastinha (massagista), Paulo Borges, Cabralzinho, Ladeira, Ocimar e Aladim
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