domingo, 18 de dezembro de 2016



                                    50 anos da final que não acabou

Depois de dois vice-campeonatos consecutivos veio a consagração em 1966. O Bangu foi o melhor em tudo. Sua defesa sofreu apenas 8 gols. O ataque marcou 50 gols, sendo Paulo Borges o artilheiro do campeonato com 16 gols. Foram 15 vitórias, dois empates e uma derrota para o Flamengo por 2 a 1, no 1o turno. 

Na partida entre Bangu e Flamengo, os torcedores presenciaram um dos lances mais emocionantes da história do Maracanã. Almir, o “pernambuquinho”, marcou um gol arrastando a cara na lama.  A bola, com o campo enlameado, parou perto da linha de gol e foi empurrada com a cabeça por Almir diante de um Ubirajara caído e tentando desesperadamente evitar com uma das mãos a queda de sua meta. 

A partida da decisão histórica de 1966 não terminou. Aos 25 minutos do 2o tempo quando o Bangu ganhava por 3 a 0, vários jogadores brigaram. O árbitro Airton Vieira de Moraes, o popular “Sansão”, expulsou cinco jogadores do Flamengo: Almir, Itamar, Silva, Paulo Henrique e o goleiro Waldomiro; e quatro do Bangu: Ari Clemente, Ubirajara, Luís Alberto e Ladeira. Como nenhuma partida pode começar ou ser reiniciada com menos de sete jogadores por equipe, Sansão encerrou o jogo. 

Entrevistei Ubirajara que nos falou sobre o jogo e explicou a razão do conflito generalizado entre os jogadores:  

“Quando chegou em 66, o time estava bem armado. Com toda a sinceridade não precisava nem de treinador. O nosso querido Alfredo Gonzales chegava para gente e dizia: “Moçada, vamos lá. Aquilo de sempre”. Tudo que o mestre Tim deixou, ele seguiu perfeitamente.
Sabíamos que tudo poderia acontecer naquela decisão com o Flamengo. Primeiro a torcida iria lotar o Maracanã, sem deixar nenhum espaço para os banguenses. A torcida do Bangu era pequena, mas tinha o reforço dos tricolores, vascaínos e botafoguenses. Segundo, sabíamos como o Flamengo jogaria, porque acompanhávamos de perto. Tanto que no sábado, dois jogadores foram fazer testes para ver se tinham condições de jogo ou não. Esses jogadores voltaram a sentir a contusão. Com menos dois o jogo ficava mais tranquilo.
No início da partida eu salvei um gol numa cabeçada do Silva, desviando a bola que foi bater no travessão. Na volta armamos o contra ataque e o Ocimar de longe fez o primeiro gol. Começamos a tocar mais a bola, já que o Flamengo tinha que empatar e desempatar. O Bangu jogava pelo empate. Ainda, no primeiro tempo marcamos o segundo gol por intermédio do Aladim. Aí, o Flamengo começou a se desesperar. 

A briga do Almir não era comigo e sim com o Ladeira, que deu uma cotovelada no Paulo Henrique. Quando o Paulo Henrique queixou-se ao Almir, ele partiu para cima do Ladeira, que tentou correr. Como as entradas dos túneis para os vestiários ficavam fechadas, o Ladeira voltou. Ao passar pelo Itamar, ele levou um pontapé no peito e caiu. O Almir partiu para pisar o Ladeira. Quando eu vi, saí do gol e segurei o Almir. O Sansão, que era o árbitro expulsou o Itamar e o Almir. Aí, o Flávio Soares de Moura, diretor do Flamengo, mandou o Almir me tirar de campo. Ele, então, partiu para cima de mim. O Ari Clemente, nosso lateral esquerdo, virou-se para o Almir e disse: “Já que você quer briga, vamos brigar”. Tudo recomeçou. Depois o Airton Vieira de Moraes expulsou quatro jogadores do Bangu e cinco do Flamengo”.
Outros personagens da final carioca de 1966 falam sobre aquela tarde de 18 de dezembro de 1966::

Jaime


“Os que foram expulsos tinham descido. Aí, eu chamei e falei para voltar porque nós vamos dar a volta olímpica. Foi a volta mais bonita que eu dei na minha vida foi aquela. Eu sou Bangu porque ganhei o campeonato de 66. Eu me sinto até hoje campeão”.
Ocimar

Eu dei uma limpada, cortei e joguei lá dentro. O Valdomiro coitado...”.

Paulo Borges


“Fomos para o Maracanã no ônibus velho. Na chegada você só via torcedores do Flamengo e uns dez com a camisa do Bangu. Não é mole. Nós bancamos o burro, deveríamos ter entrado junto com o Flamengo. Entramos antes e levamos a maior vaia da nossa vida. Levamos vaia de no mínimo 108 mil pessoas das cento e dez que estavam no estádio. As pernas tremiam. Quando o Flamengo entrou, eu disse é hoje...”

“Cabralzinho pegou a bola e só estávamos eu e o Paulo Henrique. O Flamengo adiantou a zaga e o Cabralzinho lançou para mim. Eu recebi na frente e fui. Só, tínhamos eu, o goleiro e a rede. Existe uma foto que até hoje não entendi como me pegaram sorrindo para fazer o 3o gol”.

Cabralzinho


“Tim montou a grande máquina do Bangu. Zizinho, eu diria que lamentavelmente era o oposto do Tim. Ele exigia tanto dele que não conseguia transmitir para nós jogadores tudo aquilo o que ele sabia fazer em campo como jogador. O curioso é que ele em alguns treinamentos, apesar da idade, participava e ainda executava muito bem.

“Os oito minutos iniciais foram terríveis para o Bangu. Depois começamos a nos posicionar melhor, a nos conscientizar melhor. Os gritos foram diminuindo e o Bangu crescendo em campo. Ainda no primeiro tempo, Ocimar 1 a 0”.

Ladeira


“Eu e o Paulo Henrique discutimos numa bola em que nós dividimos um pouquinho mais firme. Eu, no momento, perdi a cabeça, talvez pela pressão do jogo, e dei um tapa no rosto dele”. 

Aladim


 “Cabralzinho e Paulo Borges fizeram a tabela, a bola foi para o Jaime que me lançou entre os beques, na quina da grande área do lado esquerdo. Eu chutei cruzado. Valdomiro não teve nem jeito”.

 

 
Na semana da final com o Flamengo, Alfredo Gonzales e Ubirajara conversam no treino
 
 
Com Ubirajara à frente, a equipe do Bangu entra em campo para enfrentar o Flamengo

 
Almir corre atrás de Ladeira

 
Almir parte para agredir Ubirajara

 
Jogadores do Bangu e do Flamengo se envolvem na briga

 
Os campeões dão a volta olímpica

 
A excelente equipe do Bangu campeã carioca de 1966: Mario Tito, Ubirajara, Luís Alberto, Ari Clemente, Fídélis e Jaime; Pastinha (massagista), Paulo Borges, Cabralzinho, Ladeira, Ocimar e Aladim
 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário