Meu amigo Telê
26 de julho de 1931 – 26
de julho de 2013
82 anos
O bom mineiro Telê Santana nasceu em Itabirito no dia
26 de julho de 1931. O gosto pelo futebol começou no Largo dos Machadinhos, nas
peladas com balizas de pedras e tijolos. Depois de ser reprovado como goleiro,
posição de seu pai, na meta do Itabirense, Telê com onze anos, foi jogar de
meia-direita do infantil, passando no ano seguinte para o juvenil. Mais tarde
vestiu a camisa do América Recreativo, time fundado por seu pai, em São João
Del Rey, para onde a família se mudara.
Tricolor desde menino
As potentes ondas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro
cobriam todo o Brasil. Telê era assíduo ouvinte da emissora, especialmente,
quando jogava o seu Fluminense. O time de botão era o supercampeão carioca de
1946: Robertinho, Gualter e Haroldo; Paschoal, Telesca e Bigode; Pedro Amorim,
Ademir, Careca, Orlando e Rodrigues. Os craques eram o extraordinário Ademir,
seu ídolo, e Orlando “Pingo de Ouro”, os quais tornaram-se seus grandes amigos.
Antes das Laranjeiras alguns treinos em São Januário
A vinda do jovem Telê para o Rio se deu por intermédio
de um amigo de seu pai. O destino foi o Vasco da Gama, em 1949. Apresentado a
Oto Glória, técnico do juvenil, Telê realizou os primeiros treinos contra os
consagrados profissionais do “Expresso da Vitória”. O nervosismo prejudicou o
futebol do garoto do interior que retornou a São João Del Rey.
Veio o convite para treinar no Fluminense. Oto Vieira,
que gostara do desempenho de Telê nos primeiros treinos, o escalou para jogar
contra os amadores do Brás de Pina, no campo do Bonsucesso. Na vitória de 9 a
4, Telê marcou cinco gols. Antes do jogo Preguinho pediu para Emilson, capitão
do time tricolor, observar o desempenho
do garoto de Itabirito.
Depois do jogo, Emilson falou com Preguinho: “Pega
logo o homem, antes que ele venha jogar contra nós”. Ao lado de Telê nessa
partida jogaram: Adalberto, Duarte e Chiquinho; Batatais, Emilson e Décio;
Haroldo, Jerônimo, Robson e Quincas.
Peça chave no esquema de Zezé Moreira
Telê iniciou sua carreira no Fluminense, jogando de
centro avante na equipe juvenil, sagrando-se campeão carioca em 1950. No ano
seguinte, aceitou o desafio de Zezé Moreira que o chamou para jogar na
ponta-direita, compondo o meio-campo na marcação por zona, esquema tático
aplicado pelo técnico.
Telê se transformou numa das principais peças do time
tricolor na temporada de 1951. Na segunda partida da melhor de três diante do
Bangu, na decisão do título carioca, Zezé o escalou no centro do ataque em
substituição a Carlyle, que fora expulso no primeiro jogo. Telê marcou os dois
gols da vitória de 2 a 0 e conquistou o título de campeão carioca de 1951.
Quando trabalhamos juntos na Rádio Tupi, em 1965,
fomos a sua sorveteria na Vila da Penha. Telê fez questão de nos mostrar à
camisa que usou no último jogo do campeonato de 51, guardada como verdadeiro
troféu.
Os títulos após 1951
Telê, titular absoluto, se sagrou campeão invicto da
II Taça Rio, em 1952, e, em 1957, conquistou também invicto o Torneio Rio São
Paulo sob a direção técnica de Silvio Pirilo.
Em 1959, o Fluminense contratou o excelente
ponta-direita Maurinho. Zezé Moreira, que retornara às Laranjeiras no ano
anterior, armou o time com Telê no meio-campo ao lado de Edemilson e Paulinho
Omena. Telê mais uma vez teve importante participação em mais essa conquista do
tricolor das Laranjeiras e, em 1960, foi novamente, campeão do Torneio Rio-São Paulo.
A saída do Fluminense
Telê jogou no Fluminense até 1961. Ailton Machado
prometeu a Telê que o clube lhe daria aumento na renovação de contrato. Com a
mudança de diretoria, Dilson Guedes entrou como vice de futebol. Telê o
procurou para tratar do assunto, recebendo a seguinte resposta: “Não tratei
nada com você”. Telê ponderou que os diretores falam em nome do clube. Não
adiantou. O caminho foi o Guarani de Campinas, onde permaneceu até o início de
63. No mesmo ano disputou o campeonato carioca pelo Madureira.
Presenciei um
fato emocionante. Iniciava minha carreira de locutor esportivo na Emissora
Continental e fui escalado para fazer ponta no jogo Fluminense e Madureira. No
gol à esquerda da tribuna do Maracanã, Telê aproximou-se da área, frente a frente
com Castilho, esperou o goleiro se adiantar e com sutil toque de pé direito
encobriu seu grande amigo, marcando o gol de honra do tricolor suburbano. Seus
ex companheiros liderados por Castilho foram cumprimentá-lo. O Fluminense
venceu por 5 a 1.
Na Rádio Tupi, para aonde me transferi no 2º semestre
de 64, transmiti muitos jogos tendo ao lado o comentarista Telê Santana, o “Fio
de Esperança”. Assim ele passou a ser conhecido no mundo do futebol por ser
magro e nunca desistir de lutar em busca de uma vitória.
Telê estava com 34 anos, quando Zezé Moreira assumiu a
direção técnica do Vasco. Não poderia deixar de aceitar o convite de seu mestre
para voltar aos gramados. Em São Januário, ele ficou apenas três meses, atuou
em dois jogos e encerrou a carreira.
O técnico Telê Santana
No Fluminense, Telê assumiu a direção do infantil. Ali
começava a sua vitoriosa carreira de técnico. Em 1968, substituiu Alfredo
Gonzales como treinador da equipe principal, mas ficou pouco tempo. O
Fluminense contratara Evaristo de Macedo. Com a saída de Evaristo, o “Fio de
Esperança” assumiu para valer o comando técnico dos profissionais e chegou ao
título de campeão estadual de 1969.
Discordando de certas normas impostas pela diretoria
do Fluminense, Telê aproveitou o interesse do Atlético Mineiro e se transferiu
para Belo Horizonte. Perdeu para seu ex clube a decisão da Taça de Prata de
1970, mas no ano seguinte levou o Atlético Mineiro ao título de campeão
brasileiro.
Nessa época, eu estava na Rádio Nacional e nas muitas
vezes que ia transmitir jogos, no Mineirão, telefonava para Telê convocando-o
para ser meu comentarista. Depois dos jogos íamos jantar e o papo rolava até
tarde. Uma vez, Telê virou-se para mim e disse: “Você está com muita fome?”.
Respondi: “Por quê?”. Ele me disse: “Vamos fazer uma ronda. Quero ver se algum
jogador está na noite, especialmente, o Campos”. Telê não admitia indisciplina
e falta de profissionalismo. Campos era um centro avante que, se não me engano
veio de Manaus. Corria o campo todo. Depois descobriram que ele tomava
estimulantes.
Numa dessas idas a Belo Horizonte, tive o prazer de
conhecer seu pai, figura humana simples e doce, que fora goleiro na juventude.
Constatei em pouco tempo a razão da integridade do homem Telê Santana: a sólida
estrutura familiar.
Telê me comprava as passagens aéreas pela metade do
preço e vínhamos de carro para o Rio. As longas conversas serviram como aulas
sobre futebol e de vida. Lamento que os diferentes rumos de nossas vidas nos
distanciaram. Porém, a amizade permaneceu e a saudade é eterna.
Na sua vida de técnico, Telê levou vários clubes a
muitas conquistas: Fluminense – campeão carioca – 1969; Atlético Mineiro –
campeão mineiro 1970/1988 e campeão brasileiro – 1971; Grêmio – campeão gaúcho
– 1977; São Paulo – bicampeão paulista – 1991/92, campeão brasileiro – 1991,
Recopa Sul-Americana – 1993/94; campeão da Supercopa da Libertadores – 1992/93,
e bicampeão mundial (Copa Toyota) – 1992/93.
Telê dirigiu a seleção brasileira em duas Copas do
Mundo seguidas. Em 1982, na Espanha, formou um time que encantou o mundo.
Perdeu para a Itália por 3 a 2. Em 1986, o Brasil saiu da Copa ao perder para a
França na série de pênaltis.
Como técnico das categorias de base, Telê dirigiu
várias gerações em clubes e na seleção. Passava para os jovens fundamentais
ensinamentos de futebol e de vida. Ao nos deixar em 21 de abril de 2006, dia da
Inconfidência Mineira, Telê não deixou apenas saudades. Deixou exemplos de
vida.
“Não sei se em outro clube eu produziria da mesma
forma. O Fluminense, desde meus tempos de menino, é o dono do meu coração.
Vestir sua camisa era o que de mais gostoso poderia suceder em minha carreira.
Só deixarei o clube quando não me quiserem mais”.
Telê
Santana
Telê na equipe do Fluminense tetracampeã carioca juvenil de 1950: em pé, Milton, Nicola, Telê, Jorge Henrique e Quincas; agachados, Getúlio, Adalberto, Batatais, Odir, Emilson e Chiquinho.
Campeão carioca de 1951, Telê é carregado pelos torcedores do Fluminense.
Telê recebe a faixa de campeão do Torneio Rio São Paulo antes do jogo com o São Paulo, no Maracanã.
Depois do Guarani, ainda em 1963, Telê jogou no Madureira. Em Conselheiro Galvão, Telê conversa com o técnico Samuel Lopes.
Telê aceitou o convite de Zezé Moreira e defendeu o Vasco da Gama, seu último clube como jogador.
Quando Alfredo Gonzales deixou o Fluminense, Telê ocupou o seu lugar. Ele conversa com Samarone, Valtinho e Altair. Mais atrás aparecem Bauer, Jardel e Cafuringa.
Sob o comando de Telê, o Fluminense se sagrou campeão estadual de 1969: em pé, Marco Antônio, Félix, Galhardo, Denílson, Assis, Oliveira, Telê e Antônio Clemente; agachados, Santana (massagista), Wilton, Cláudio, Flávio, Samarone e Lula.
Campeão brasileiro de 1971 dirigindo o Atlético Mineiro, Telê é carregado após a partida contra o Botafogo, no Maracanã.
Em 1982, Telê assumiu a seleção brasileira. A imprensa sempre procurou ouvir o novo técnico.
Telê relaxa na concentração, jogando sinuca.
Telê voltou a dirigir a seleção brasileira na Copa de 86, no México. Antes de um treino, ele aparece ao lado Júnior, Sócrates, Toninho Cerezo, Edinho e Zico.
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