Convivi por quase 30
anos com João Saldanha no universo do futebol. Mais diretamente, no período de
quatro anos, quando fizemos parte da equipe esportiva da Rádio Nacional.
Companheiro leal, direto ao expor seus pontos de vista, solidário e generoso.
Numa 2ª feira, estávamos na sala de esportes da rádio, quando o João chegou de
terno, fugindo de o hábito do traje esportivo. Moisés Maciel, querido amigo e
Coordenador da Equipe, afirma até hoje que achou estranho ver Saldanha de terno
e gravata. Algo estava para acontecer. João falou pouco e por volta das 18
horas saiu para a sede da CBD, na Rua da Alfândega. Horas depois o telefone tocou
e eu atendi. Do outro lado, a voz: “Cadê o turco”. Reconheci a voz e respondi: “Fala Johnny”. E
ele falou: “Sou o técnico da seleção e quero passar os nomes das minhas de os convocados”.
Nasciam as “feras” do João.
Primeiro, Saldanha
esteve parte da tarde na rádio e não nos privilegiou a notícia que seria um
grande furo. Segundo, quando passou os nomes dos convocados já escalou os
titulares e reservas. Na sede da CBD, a atitude de Saldanha causou total
espanto. Antônio do Passo, que seria o chefe da delegação brasileira no México,
surpreso disse: “Você não nos consultou”. João respondeu: “Prá que, não ia alterar
nada. Quem escala sou eu.”
Félix, Carlos
Alberto, Djalma Dias, Brito e Rildo; Wilson Piazza e Gerson.; Jairzinho, Dirceu
Lopes, Pelé e Tostão eram os titulares; Cláudio, Zé Maria, Scalla, Joel e
Everaldo; Clodoaldo e Paulo César; Paulo Borges, Toninho, Rivelino e Edu eram
os reservas.
Os titulares
pertenciam às grandes equipes do Botafogo, Cruzeiro e Santos. Era o início de
uma caminhada vitoriosa que nos levou ao terceiro título mundial e consequentemente
a posse definitiva da Taça Jules Rimet.
Naquele momento, João
Saldanha dava aos técnicos brasileiros importantes lições: personalidade,
independência e que convocação não tem mistério. Quem é técnico da seleção tem
a sua disposição o maior elenco do mundo. Não tem que fazer experiência. É só
escolher os jogadores conforme suas concepções táticas. Quem são, em sua
opinião, os melhores de cada posição.
Passamos fácil pelas
eliminatórias e quando Zagallo assumiu a seleção, sem tirar seus méritos,
encontrou uma base que facilitou as mudanças introduzidas por ele. De lá prá
cá, os nossos treinadores custam a definir, convocando vários atletas para as
diversas posições e cometem o absurdo de fazer testes. Seleção não tem teste. É
ou não é.
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